Jornalistas lançam alertas na entrega dos Prémios Gazeta

Os jornalistas distinguidos com os Prémios Gazeta 2006 aproveitaram a cerimónia de entrega dos galardões, realizada na noite de 25 de Setembro nas ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa, para alertar para alguns problemas da profissão, numa cerimónia presidida pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e que contou ainda com a presença de Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares e responsável pela tutela da pasta da Comunicação Social.

No seu discurso, o jornalista da RTP Jacinto Godinho, vencedor do Grande Prémio Gazeta, sublinhou a necessidade de encontrar fórmulas rentáveis de dar mais tempo ao jornalismo de investigação, sob pena de este “não sobreviver à especulação, às generalidades, ao infotainment, às manipulações que transformam simples estratégias de marketing político e económico em primeiras páginas de jornais e aberturas de telejornal”.

Por seu turno, o galardoado com o Prémio Revelação, João Pacheco, dedicou o prémio “a todos os jornalistas precários”, frisando que apesar de estar no jornalismo há três anos continua a não ter qualquer contrato, nem rendimento fixo, nem direito a férias, nem protecção na doença, nem quaisquer direitos caso venha a ter filhos.

“Se a minha situação fosse uma excepção, não seria grave. Mas como é generalizada – no jornalismo e em quase todas as áreas profissionais – o que está em causa é a democracia. E no caso específico do jornalismo está em risco a liberdade de imprensa”, afirmou o jornalista que foi premiado por um conjunto de trabalhos publicados na revista “Pública”.

Já António Sancho, director da revista “Mais Alentejo”, queixou-se da “obscena carga fiscal” a que o Estado sujeita as pequenas empresas como a sua, destacando que cada edição da publicação é feita “com o dinheirinho todo contado” e a sustentabilidade só é possível devido à entrega apaixonada de quem nela trabalha.

Por fim, o jornalista e escritor Manuel António Pina – representado na cerimónia pela sua filha Sara Pina – agradeceu a atribuição do Prémio Gazeta de Mérito com um elogio à organização: “Em tempos pouco fáceis para o exercício do jornalismo em dignidade e em liberdade, o Clube de Jornalistas tem sido “ao fundo do desgosto, uma janela aberta, uma janela iluminada”, como no poema à liberdade escrito por Paul Éluard sob a ocupação”.

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