Jornalistas italianos em greve

Os jornalistas italianos aderiram à greve geral de hoje, 16 de Abril, que foi convocada pelas principais organizações sindicais transalpinas, em protesto contra as medidas de flexibilização dos despedimentos avançadas pelo Governo de Sílvio Berlusconi. Hoje só trabalharão os jornalistas da imprensa diária, que paralisaram 24 horas antes do resto da classe, pelo que não haverá jornais diários à venda em Itália.

A Federação Nacional da Imprensa Italiana (Federazione Nazionale Stampa Italiana, FNSI) aderiu à greve geral convocada pelas três centrais sindicais transalpinas, a Cgil, a Cisl e a Uil, por considerar que a legislação proposta pelo governo Berlusconi para o trabalho traduzir-se-á «no desemantelamento dos direitos» dos jornalistas e das redacções.

Em causa está, entre outras medidas, a suspensão durante quatro anos do artigo 18, permitindo os despedimentos sem justa causa naquele espaço de tempo. A federação sindical dos jornalistas transalpinos denuncia ainda os ataques à autonomia da previdência dos jornalistas e reafirma a necessidade de apoiar «um desenvolvimento democrático e pluralista do sistema de comunicação, de forma a defender a qualidade da informação», pode ler-se numa declaração publicada no sítio da FNSI.

A liberalização dos despedimentos, a eliminação da garantia do posto de trabalho e o trabalho descontínuo são algumas das medidas que o sindicato contesta e que motivaram a adesão, por unanimidade, a esta greve geral.

Na declaração, a FNSI recorda que «a greve geral é um instrumento democrático e civil de luta e nada tem a ver com o recurso a qualquer forma de terrorismo ou violência», reafirmando a condenação ao atentado recente que vitimou o consultor do Ministério do Trabalho, Marco Biagi.

A paralisação de 24 horas estende-se a todos os sectores da comunicação social. A greve na Imprensa diária decorreu entre as sete horas de dia 15 e a mesma hora de 16. Nas agências de informação, a paralisação também decorreu entre a manhã de segunda-feira e a manhã de terça-feira, pelo que a agência ANSA tem estado divulgar informação actualizada sobre a paralisação.

Os jornalistas trabalhando em sítios na Internet não trabalharão entre as seis da manhã de hoje, 16 de Abril e as seis da manhã de 17. Nas televisões e nas rádios, haverá apenas dois blocos informativos de seis minutos cada, sem imagens ou directos. Os jornalistas «freelance» e da imprensa não-diária estarão também em greve hoje.

Trata-se da primeira greve geral convocada em Itália desde 25 de Junho de 1982. Estão marcados para hoje comícios e manifestações nas principais cidades italianas, nomeadamente Roma, Florença, Milão, Bolonha, Turim, Nápoles, Palermo, Cagliari e Génova.

FEJ solidária

A Federação Europeia de Jornalistas (FEJ), de que a FNSI é membro, emitiu uma declaração de solidariedade com os jornalistas italianos. Aidan White, secretário-geral desta federação e da Federação Internacional de Jornalistas disse que «face à profunda crise na paisagem mediática italiana, incluindo ataques à independência editorial, acompanhada por um assalto sem precedente aos direitos básicos dos trabalhadores italianos, esta greve é inevitável e surge na altura certa».

Para a FEJ, esta greve reflecte a tendência para a mobilização e a resistência dos jornalistas em toda a Europa, face à degradação das condições de trabalho. «A Itália está a tentar estabelecer novos padrões que degradarão os direitos dos trabalhadores e tornarão piores as condições para todos os trabalhadores dos média», afirmou o presidente da FEJ, Gustl Glattfelder, para quem a situação italiana «é o pior cenário possível, que pode e deve ser evitado».

Partilhe