A VI Conferência de Jornalistas do Mediterrâneo, que decorreu em Nicósia (Chipre), nos dias 8 e 9 de Março, apelou à solidariedade e à mobilização de todos os sindicatos na luta pela defesa das liberdades e expressou a determinação de todas as organizações de jornalistas participantes (37 de 15 países) com vista a favorecer o diálogo, atenuar as tensões e contribuir para a obtenção da paz na região. O Sindicato dos Jornalistas (SJ) esteve representado pelo membro da sua Direcção, Martins Morim, responsável pelo pelouro das Relações Internacionais
Em declaração divulgada no final, a conferência denunciou e condenou os ataques, intimidações e todos os tipos de censura de que têm sido vítimas jornalistas e órgãos de informação da região, designadamente na Turquia, Tunísia, Argélia e Marrocos, e manifestou-se preocupada com a forma como Berlusconi exerce a sua influência sobre todos os canais de telvisão em Itália. «Só a solidariedade entre os jornalistas dos dois lados do Mediterrâneo», diz o documento, «pode permitir lutar de forma mais eficaz contra todas as formas de censura e contra os processos de autocensura que, infelizmente, na sequência da crise internacional, se intensificam e radicalizam.»
Os jornalistas do Mediterrâneo declaram-se também «chocados e indignados com os acontecimentos cada vez mais dramáticos em Israel e nos territórios palestianos ocupados por aquele país» e consideram o primeiro ministro israelita, Ariel Sharon, como «principal responsável» pelo que se passa, designadamente, ao qualificar o processo de Oslo como a «pior catástrofe» que atingiu o país.
Os participantes pediram à comunidade internacional e, em primeiro lugar, à União Europeia, para «intervir com firmeza na guerra entre Israel e a Palestina com uma task-force política e diplomática», com o objectivo de impor o «restabelecimento de um diálogo que ponha fim às opções mais extremistas, as quais, infelizmente, são tomadas pelos dois lados» e que conduza, finalmente, «ao reconhecimento do Estado da Palestina e segurança definitiva para Israel.»
A conferência qualificou a situação do Chipre como «fonte de perigosas tensões e de instabilidade» numa região nevrálgica da região do Mediterrâneo oriental e expressou o desejo de que os encontros entre os líderes das comunidades cipriota-grega e cipriota-turca «possam contribuir, o mais rapidamente possível, para um possível acordo baseado nas resoluções da ONU e das declarações da União Europeia.»
Alerta e solidariedade
Tendo em vista proteger e aumentar o papel, a dignidade e a autonomia profissionais dos jornalistas, a conferência considerou como «fundamental» a concretização de projectos sindicais e profissionais na região, designadamente na margem sul da bacia do Mediterrâneo. Mas, para isso, é também preciso que os jornalistas possam apoiar-se, por um lado, em «estatutos de empresa que reconheçam estes valores» e, por outro, em «condições económicas e normas contratuais e colectivas dignas e válidas.» Neste contexto, as organizações sindicais de jornalistas da região salientam a importância do intercâmbio de experiências, tanto nos domínios sindical como profissional, mas também na área da formação, a par da necessidade de adopção de «planos de acção visando o reforço do estatuto dos jornalistas.»
A conferência denunciou ainda «o perigo de que a informação jornalística, sobretudo em tempo de guerra, possa ser utilizada como uma armas como as outras».Exortou, por isso, todos os jornalistas a uma «grande vigilância, em nome da dignidade profissional» e pediu que, em caso de crise militar, eles possam beneficiar de «melhores assistência e protecção», para que possam ser livres e movimentarem-se à vontade na recolha de informações. A conferência pediu às organizações internacionais e aos governos que «assegurem o direito de acesso às fontes de informação, sejam elas públicas ou emanem das partes em conflito.»
A conferência aprovou a ideia da criação de um espaço on-line e de um jornal telemático comum, o qual, segundo um projecto elaborado pela organização Informação Sem Fronteiras (ISF), poderá chamar-se MED – Mediterranean Electronic Diary, que deverá, entre outros objectivos, denunciar e combater os casos de violação dos direitos do homem e contribuir para o reforço das organizações sindicais de jornalistas na região. O SJ dispôs-se a colaborar neste projecto juntamente com a Associação de Jornalistas da Toscânia (Itália).
Tendo em conta o rápido desenvolvimento das tecnologias e técnicas de informação e a necessidade de uma formação profissional cada vez mais específica, sobretudo dos jovens jornalistas, a conferência defendeu o reforço da política de estágios e de formação contínua, acções que deverão ser garantidas através de bolsas de estudo, fundadas e geridas com apoio da FIJ, da União Europeia e de outras entidades e organizações.