Jornalistas da “Notícias Magazine” respondem à Lusomundo

Os jornalistas da redacção no Porto da “Notícias Magazine” afirmam que a Lusomundo Media respondeu “com exaltação” à reflexão “serena e construtiva” do Manifesto contra o encerramento daquela redacção e lamentam que a administração tenha chamado a si “poderes e prerrogativas sobre conteúdos”, a propósito da publicação do documento no “Jornal de Notícias”.

Subscrito por centenas de figuras públicas do Norte e de todo o país, o Manifesto contra o encerramento da redacção no Porto da “Notícias Magazine”, foi publicado, em espaço publicitário, na edição de 19 de Dezembro do “JN”. A administração da Lusomundo publicou na página ao lado um comunicado seu, no qual dizia ter autorizado a publicação do anúncio e respondia ao Manifesto.

É o seguinte o texto integral do documento assinado pelos jornalistas da redacção do Porto da “NM”:

Esclarecimento

“Em resposta ao Manifesto subscrito por centenas de personalidades, firmando «veemente e público protesto ante o cenário do Grupo PT encerrar no Porto a Redacção da Notícias Magazine», a Administração da Lusomundo Media publicou um Comunicado, sobre o qual, na qualidade de membros da Redacção da Notícias Magazine no Porto, nos é imperativo reflectir:

“1. Forçados protagonistas neste processo, acolhemos com regozijo e honra o apoio dos «homens e mulheres de Cultura, das Letras, Arte e Ciência, da intervenção em esferas múltiplas da vida nacional», personalidades e cidadãos que subscreveram, e continuam a subscrever, o texto do Manifesto, reclamando «urgente implementação de medidas que retemperem e reforcem a Redacção da revista Notícias Magazine no Porto, ao invés do projectado silenciamento deste importante pólo jornalístico do País».

“2. À reflexão serena e construtiva do Manifesto, responde a Administração com exaltação, metáforas solares em dias de sombra, formulações agressivas, constituindo-se este documento, a vários títulos, num incontornável repositório de referências: sobre o acolhimento que a actual Administração da Lusomundo Media reserva às achegas, contributos e esclarecidos alertas de insignes leitores e cidadãos; sobre um modo dominante de entender a Informação; sobre a visão estratégica para os media PT; sobre as liberdades. Manifesto e Comunicado, publicados a par (JN, 19 de Dezembro), são, enfim, o frente a frente razão-força, trabalho-despedimento.

“3. Garante o Comunicado ter a Administração da Lusomundo Media, SGPS, entendido «aceitar a divulgação» do Manifesto nas páginas de publicidade do JN, por considerar que os jornais e as revistas do Grupo PT «são espaços plurais de livre expressão de ideias», mesmo recorrendo «à publicidade comercial como forma de comunicação».

Sem divisarmos mácula no processo utilizado pelo Sindicato dos Jornalistas para que o Manifesto tivesse eco nos media, na sua forma integral, anotamos que a reivindicada tolerância na publicação do texto mais não é, na realidade, do que uma obrigação decorrente da Lei de Imprensa. Entretanto, fonte de fundadas e graves apreensões, por se constituir em atropelo à Lei, é a declarada assunção por parte da referida Administração de poderes e prerrogativas sobre conteúdos, matéria da exclusiva responsabilidade do director do jornal.

“4. O feérico desenho de iniciativas e novas edições para o Porto, Centro e Minho, seguindo «uma política editorial de aposta na regionalização e localização de conteúdos», conforme o Comunicado, o pujante alento empresarial nos media PT consubstanciam-se, estranhamente, em despedimentos, em conflitos laborais um tanto por todos os jornais e revistas do Grupo, pelo incremento do trabalho precário, do “jornalismo à peça”, da «rápida alocação de jornalistas», pela cega obstinação de encerrar a redacção da NM no Porto e despedir os seus integrantes, malbaratando esta prestigiada mais-valia: estrutura e pessoas.

“5. Que são dois os jornalistas da Notícias Magazine no Porto, diz o Comunicado, insinuando minudência no caso, face à desmedida expressão dos projectos do Grupo. A ser assim, uma outra ideia-força se sobrepõe: o Grupo revela-se objectiva e subjectivamente incapaz de resolver a situação de dois trabalhadores (corrija-se: são cinco e não dois os jornalistas envolvidos – quatro actualmente no quadro da NM-Porto, um outro com processo em Tribunal, por despedimento). Dois ou cinco, a grandeza e a gravidade do problema não se medem pela existência, pelo número dos trabalhadores em risco. O assunto é ainda mais grave: tem expressão no vazio, na inexistência, no zero, no perseguido silenciamento definitivo da Redacção.

“6. Ainda, para «conhecimento profundo dos dossiers» e a formulação de uma opinião sustentada, difícil é entender como a Notícias Magazine, nascida em 1992 no Porto e com uma delegação em Lisboa, cerca de onze anos depois, tenha a gerência, os serviços administrativos, a direcção editorial, o grosso dos seus efectivos na capital; isto enquanto a Redacção fundadora vive um processo de agonia, privada de meios e condições de trabalho, com os seus profissionais humilhados, discriminados, e temendo o encerramento a toda a hora. Entretanto, de 1992 ao presente, o pano de fundo manteve-se inalterado: o JN e o Norte garantiram, garantem, 70% da circulação e da tiragem da Notícias Magazine!

“7. Espanta que se reserve o galardão do despedimento a jornalistas, todos eles no quadro da NM desde a primeira hora, e com um desempenho profissional repetidamente reconhecido pela Direcção editorial. Em paridade, espanta que se reserve o prémio de retirar aos leitores do JN, os maioritários consumidores da revista, um corpo redactorial implantado no seu seio. Espanta, por fim, que enquanto se anunciam novos desempenhos para o DN a Norte, nessa mesma hora se declare o encerramento aqui da Redacção da NM.

“8. Queremos, por último, assinalar o empenho e a ajuda do Sindicato dos Jornalistas, dos secretários-gerais da CGTP e da UGT, de camaradas da profissão e, de modo especial, destacar as moções de unânime solidariedade dos trabalhadores do Jornal de Notícias, aprovadas nos dois últimos plenários de empresa. Este abraço, este mesmo abraço, cruzamo-lo com todos os trabalhadores que, no Grupo PT e noutros lugares, defendem o emprego, o posto de trabalho. E, de resto, para enfrentar as negras ameaças que espreitam entre as letras do sisudo Comunicado, bom é saber que não estamos sós, honroso é contar com o apoio de magnos representantes do pensamento, da consciência cívica do País.

Com Galileu, na suspeição de que a Terra e a sociedade continuam a mover-se: Porto, 1 de Janeiro de 2003.

A Redacção no Porto da Revista Notícias Magazine

Augusto Baptista/Eugénio Pinto/Froufe Andrade/Gaspar de Jesus

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