Jornalista processada no Egipto por filmagens não editadas

As autoridades egípcias moveram um processo contra Howayda Taha Matwali, produtora da Al Jazeera e repórter do diário “Al-Quds al-Arabi”, devido a filmagens não editadas de recriações de alegados casos de tortura em esquadras do Egipto que ela pretendia usar para um documentário.

A jornalista arrisca-se a uma pena até cinco anos de prisão caso seja considerada culpada de “actividades que podem prejudicar os interesses nacionais” e “posse e transferência de imagens que contradizem a verdade e dão uma imagem incorrecta da situação no Egipto”.

O caso começou quando seguranças no aeroporto do Cairo confiscaram a 8 de Janeiro o portátil e 50 cassetes de Howayda Taha Matwali, quando esta se preparava para viajar para a sede da Al Jazeera no Qatar, impedindo-a de sair do país.

Cinco dias mais tarde, a jornalista foi intimada a comparecer perante o procurador e detida, sendo libertada no dia seguinte, 14 de Janeiro, após pagamento de uma fiança de 10 mil libras egípcias (1350 euros).

De acordo com a Al Jazeera, as filmagens para este documentário foram efectuadas com a colaboração do Ministério do Interior, tendo a jornalista entrevistado vítimas de alegadas torturas bem como polícias e outros agentes de segurança e recriado algumas cenas recorrendo ao trabalho de actores.

Porém, um comité de artes afecto ao Ministério do Interior afirmou que as cassetes “mostravam cenas de casos de tortura fabricados e agressões de indivíduos que envergavam uniformes policiais a outros indivíduos que desempenhavam papéis de suspeitos masculinos e femininos dentro de estúdios decorados para se assemelharem a esquadras da polícia”.

Surpreendido pela confusão que as autoridades estão a fazer entre recriações de cenas – que são normais em documentários – e imagens fabricadas com o intuito de enganar o público, o director de programas da Al Jazeera, Aref Hijjawi, considerou que “julgar qualquer material ou filmagem antes de ter sido editado abre um precedente questionável e perigoso”.

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