Jornais venezuelanos proibidos de publicar imagens violentas

Um tribunal especial para a protecção das crianças e adolescentes proibiu o diário “El Nacional” e a restante imprensa escrita da Venezuela de publicar quaisquer imagens “violentas, sangrentas ou grotescas” que possam chocar os mais novos, decisão que mereceu críticas da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ).

A fotografia que desencadeou o processo mostra uma dezena de cadáveres empilhados numa morgue e foi publicada a 13 de Agosto no “El Nacional”, ocupando a maior parte da primeira página, para ilustrar um artigo sobre o elevado número de vítimas de crimes violentos.

A imagem destinava-se a mostrar a acumulação de cadáveres na morgue, segundo justificou o editor do jornal, Miguel Henrique Otero, mas não era actual: segundo reconheceu, fora obtida em Dezembro do ano passado.

“Publicamo-la porque consideramos porque consideramos que era o momento oportuno”, visando “gerar choque para que as pessoas e as pessoas reajam ante a violência”, justificou o responsável no “twitter”, citado pelo diário “La Nación”.

O assunto está a polarizar a opinião pública, quando falta pouco mais de um mês para as eleições legislativas de 26 de Setembro. De acordo com o “El Nacional”, a proibição judicial terá a duração de um mês.

Para o editor, “esta decisão é uma forma muito conveniente de impedir que histórias de crimes cheguem ao público”, evitando assim um maior desgaste do partido do governo, que tem sido criticado pelas taxas de criminalidade no país.

Reconhecendo que a foto é “muito chocante” e “coloca questões sobre o sentido de responsabilidade dos jornais de grande circulação, mesmo que não sejam publicações destinadas a jovens”, a RSF critica, no entanto, o carácter “demasiado lato e impreciso” da sentença.

Por seu turno, o CPJ classificou a decisão judicial como “uma tentativa de censurar a cobertura noticiosa da onda de crimes em vésperas das eleições legislativas de 26 de Setembro”, sublinhando que “os jornalistas têm o direito de noticiar de forma agressiva assuntos de interesse público”.

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