Intervenção do Presidente do Sindicato dos Jornalistas no 2.º Encontro Nacional de Literacia para os Media e Jornalismo

Começo por dizer que é bom estar aqui, principalmente porque após este intervalo de dois anos decretado pela pandemia podemos voltar a falar de literacia, a trocar experiências e sobretudo a procurar juntos os caminhos para uma tão necessária formação dos nossos alunos.

Estamos num momento difícil em que parece que estamos a passar por uma tempestade perfeita, que deixa jornais e jornalismo numa situação cada vez mais frágil. É o aumento do preço do papel, são as quebras violentas nas vendas, o desinvestimento das empresas e a consequente quebra na qualidade.

Problemas vários aos quais se acrescenta um outro, a falta de literacia mediática da população que é um dos maiores perigos para a disseminação da desinformação, sendo esta uma séria ameaça à democracia.

Acredito, pois, que este projeto que nos reúne hoje aqui, em Coimbra, será uma das mais importantes formas de defender não só o jornalismo, mas a nossa sociedade democrática.

Se, por um lado nunca como hoje tivemos uma sociedade tão escolarizada, se nunca os jornais tiveram tantos leitores, mesmo que apenas no digital, por outro, a desinformação travestida de jornalismo vai ganhando mais e mais espaço. Nunca como hoje foi preciso ter uma formação sólida e uma literacia à prova de bala como nos nossos dias.

Em cada conversa que tenho sobre este projeto, com jornalistas dos quatro cantos do mundo, sinto um fascínio pela forma como fomos capazes de nos unir, de pensar em conjunto e decidir qual a melhor forma de ensinar o que é jornalismo, a melhor forma de nos defendermos da mentira, da meia-verdade e da omissão.

O Vítor Tomé irá falar-vos do caminho que fizemos. Como o projeto piloto se internacionalizou. Esse foi mesmo um grande passo, mas estamos apenas no início.

Não nos esqueçamos que este é apenas o 2.º Encontro Nacional de Literacia para os Media e Jornalismo, mas já temos todos muito para contar.

Temos para contar que, em contexto de sala de aula, professores e alunos desenvolveram projetos de grande qualidade.

Temos para contar que centenas de jovens despertaram de uma forma agradável e criativa para um tema tão complexo como a desinformação e o jornalismo.

Temos para contar que em vez de ficarmos todos à espera, fomos proactivos, derrubámos os muros que muitas vezes separavam professores e jornalistas e tivemos também o que muitas vezes falta, um ministério que sentiu que não podia fugir às suas responsabilidades, e teria aqui uma janela para valorizar os cidadãos através de um esforço coletivo que precisava desse dínamo, desse apoio. Fosse sempre assim…

Não tenho dúvidas que faremos um terceiro Encontro sobre este tema, e também um quarto e um quinto porque é necessário. Não sei se nestes moldes, não sei se este projeto deva ser alargado aos mais velhos, quem sabe até aos mais novos. O que sei é que ‘enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar’, como canta Jorge Palma.

Tenho a certeza de que no final deste dia, teremos uma noção mais sólida dos caminhos que vamos seguir. Andamos juntos desde 2017, não é muito tempo, mas por cada jovem com conhecimentos mediáticos sólidos devemos celebrar uma vitória.

Estamos a formar cidadãos menos vulneráveis à desinformação, com mais capacidade de crítica e mais preparados para diferenciar o importante do acessório.  Certamente dispostos a pagar por um bem cada vez mais escasso e precioso, que é a Informação.

A desinformação só pode ser combatida com uma população com níveis de literacia elevados. Não tenho dúvidas que os jornalistas são quem melhor podem compreender o fenómeno.  Assim como tenho a certeza de que só os professores sabem como se deve levar estes conhecimentos às salas de aulas.

Sinto-me feliz porque deste projeto sai uma lição para todos nós: este é um caminho que temos mesmo de percorrer juntos e passados estes anos temos motivos para estar satisfeitos com o que já fizemos.

Estou mesmo a terminar, mas antes disso, permitam-me que seja um pouco egoísta, que olhe para os meus interesses e dos meus pares: além de resistência à mentira e da imunidade contra a desinformação, acredito que estes jovens, que vocês professores vão ensinar, terão consciência de que a Boa Informação deve ser paga como qualquer outro bem. Só assim a profissão de Jornalista conseguirá sobreviver como garante do cumprimento dos princípios da Democracia: a preservação da liberdade de imprensa e de expressão.

Esta será uma vitória de todos.

 

Intervenção do Presidente do Sindicato dos Jornalistas, Luís Filipe Simões, no 2.º Encontro Nacional de Literacia para os Media e Jornalismo, Coimbra.

12 de Outubro de 2022

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