Grupo de Pinto Balsemão despede para manter lucros

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera indigno que o Grupo Impresa, de Pinto Balsemão, se queira descartar de cerca de duas dezenas de trabalhadores, não porque esteja em situação económica difícil, mas para obviar uma redução de lucros provocada pela diminuição da publicidade.

Em comunicado divulgado hoje, 11 Novembro, o SJ considera “ofensiva” a abordagem feita a 14 profissionais do “Expresso” para “rescisões por mútuo acordo”, e denuncia a crueldade do processo que se quer apresentar como sendo um “acordo amigável” mas que na verdade traz consigo uma pesada ameaça: quem não aceitar as condições será objecto de despedimento.

O SJ repudia igualmente o despedimento de quatro jornalistas da revista Cosmopolitan, informadas de que os respectivos contratos caducam no final do ano porque foi decidido suspender a publicação e extinguir a Hearst Edimpresa, a empresa editora, também do Grupo Balsemão. É lamentável, sublinha o SJ, que um grupo tão vasto como é a Impresa não seja capaz de manter as quatro profissionais ao seu serviço noutras publicações.

É o seguinte o texto, na íntegra, do Comunicado do SJ:

SJ repudia métodos de despedimento no “Expresso” e na “Cosmopolitan”

1.A Sojornal, empresa do Grupo Impresa desencadeou uma abordagem para “rescisões por mútuo acordo” a pelo menos 14 jornalistas, além de outros trabalhadores, dos quais se quer livrar, não porque esteja em situação económica difícil – longe disso – mas apenas porque quer manter os lucros, não hesitando em pôr os trabalhadores, e só os trabalhadores, a pagar a diminuição publicidade que terá reduzido parte dos proventos do Grupo.

2.A abordagem encetada é ofensiva da dignidade de um conjunto de jornalistas de elevado mérito que deu muito da sua vida profissional e pessoal ao “Expresso”, cujo quadro redactorial se pretende agora diminuir na medida do necessário para compensar, como terá sido alegado, as esperadas quebras de publicidade.

3.A abordagem que a Administração da Sojornal está a fazer atinge a dignidade dos trabalhadores abrangidos porque não passa de um despedimento cruel disfarçado de “acordo amigável”, pois logo vai ameaçando que quem não aceitar as condições será objecto de um despedimento. Além disso, a actuação da Administração da empresa revela um grande desprezo quando decide despedir, ao primeiro sobressalto, profissionais que muito fizeram para projectar o jornal, e uma enorme insensibilidade perante a difícil situação em que os mesmos vão ficar, pois tem consciência de que coloca no desemprego jornalistas novos de mais para recorrerem ao apoio da Segurança Social e velhos para voltarem a ter um emprego – pelo menos um emprego decente – num sector que esmaga quanto pode os custos para maximizar resultados, que quer facturar muito mas pagar pouco, mesmo com sacrifício da qualidade dos conteúdos informativos.

4.O despedimento é além do mais lesivo dos interesses do próprio “Expresso”, tornando-se cada vez mais despovoado de jornalistas com experiência e com memória, que representam um capital de credibilidade perante os seus leitores. A Administração da Impresa e o seu patrão em particular deveriam saber que os títulos, por muito prestigiados que sejam – e o “Expresso” é-o, com certeza – não alcançam e não mantêm leitores apenas pelo prestígio do cabeçalho: os jornais são feitos por pessoas, que têm nome, projecção profissional, prestígio, credibilidade. Deitá-las fora é um risco muito grande.

5.Mas o que está a acontecer no “Expresso”, como tem acontecido noutras publicações, é também um problema muito grave para a própria democracia: o desemprego de jornalistas e a redução de quadros redactoriais representa um empobrecimento da diversidade de olhares sobre o mundo e os seus acontecimentos, precisamente numa altura em que a diferença de ângulos de observação e narração da realidade fazem mais falta do que nunca.

6.Também a Hearst Edimpresa, outra empresa pertencente ao Grupo liderado por Francisco Pinto Balsemão, notificou as quatro jornalistas do quadro da revista Cosmopolitan de que os respectivos contratos vão caducar no final do ano, porque foi decidido suspender a sua publicação e extinguir a empresa.

7.O SJ lamenta que um grupo tão vasto como é a Impresa não seja capaz de manter ao seu serviço noutras publicações as quatro jornalistas adstritas à produção de uma revista que cessa publicação, só porque foi decidido encerrar a pequena empresa que detinha a sua titularidade. Este é mais um exemplo da estratégia dos grandes grupos de comunicação social: quando toca a promover a imagem e retirar proveito de negócios, o grupo apresenta-se como um todo coeso, mas, quando se trata de assumir responsabilidades, o grupo já não existe e a responsabilidade fica apenas confinada a cada uma das suas parcelas (empresas).

8.Perante este quadro, o Sindicato dos Jornalistas repudia sem hesitações esta ofensa aos direitos e à dignidade dos nossos camaradas, reafirma publicamente a sua solidariedade e a sua determinação em lutar pela defesa dos direitos e interesses desses trabalhadores, ao mesmo tempo que apela a todos os jornalistas ao serviço da Impresa que sejam efectivamente solidários e se batam pela defesa dos postos de trabalho, hoje e no futuro.

Lisboa, 11 de Novembro de 2010

A Direcção

Partilhe