Henri Cartier-Bresson, falecido no passado dia 2 de Agosto, é considerado pelos repórteres fotográficos portugueses como o “pai do fotojornalismo” e alguns reconhecem mesmo as marcas deixadas pela sua escola, a primeira a apostar na combinação do jornalismo com a arte.
Luiz Carvalho, do semanário “Expresso”, assinalou ao Sítio do Sindicato dos Jornalistas não apenas “a influência determinante de Cartier-Bresson para a existência de uma fotografia de imprensa”, mas também a forma como este apostou no “valor estético da imagem, fazendo com que esta deixasse de ser entendida como mera ilustração de um determinado momento ou acontecimento”.
“Com ele compreendi que, mesmo com recurso a uma máquina simples e sem grandes artifícios, é possível fazer uma boa fotografia, pois a economia de meios é compensada por uma grande sinceridade na forma de olhar as coisas”, afirmou ainda Luiz Carvalho, para quem “o respeito por essas imagens, capazes de contar histórias, tem vindo a perder-se na imprensa nacional”.
O fotógrafo do Expresso – que há dois anos percorreu o país para refazer, com uma objectiva igual, as imagens captadas pelo fotojornalista francês aquando da sua passagem por Portugal nos anos 50 – sublinhou ainda que o aparecimento da agência Magnum, co-fundada por Henri Cartier-Bresson em 1947, demarcou uma espécie de “região autónoma” para a fotografia dentro do jornalismo.
A importância de Henri Cartier-Bresson no fotojornalismo nacional foi também destacada por João Carvalho Pina, da Kamera Photo, para quem “o fotojornalismo tal como hoje o conhecemos deve-se a ele e ao seu trabalho fundamental”, e por António Xavier, da revista “Visão”, que enalteceu no fotógrafo francês “a forma como conseguia captar na imagem a força de certos instantes”.
Já Adriano Miranda, do diário “Público”, assinalou ao Sítio do Sindicato dos Jornalistas que Henri Cartier-Bresson – um dos seus “fotógrafos favoritos” e uma figura que “continuará a marcar várias gerações” – foi uma das primeiras referências que teve quando começou a estudar fotografia.
“Atrever-me-ia a dizer que é o pai do fotojornalismo e que a sua visão surrealista efectuou uma autêntica revolução estética na fotografia”, declarou também Adriano Miranda, lembrando que o último trabalho do fotojornalista “teve lugar há seis ou sete anos, quando, após um interregno, voltou a pegar na sua Leica para captar imagens das manifestações estudantis em França”.
A imortalidade dos trabalhos de Henri Cartier-Bresson foi igualmente focada por Manuel Silveira Ramos, coordenador dos cursos de fotografia do Cenjor, que também não hesita em apresentar o fotojornalista agora falecido como “o pai do fotojornalismo inteligente”, que fez “escola nos anos 60 em Portugal”.
“Foi um homem muito culto, que estabeleceu normas espácio-temporais dentro da fotografia ao avançar com os conceitos de momento decisivo e de organização do espaço”, afirmou Manuel Silveira Ramos, indicando que “a ideia do fotógrafo como autor, que agora nos parece tão banal, foi sugerida inicialmente por Cartier-Bresson e constituiu uma revolução na sua época”.
Manuel Silveira Ramos, um dos fundadores do ArCo, disse ainda que as influências de Henri Cartier-Bresson foram muito importantes para si enquanto “consumidor de fotografia” e também no seu papel de professor, em que tem vindo a ser “um veículo de divulgação do seu trabalho”.
Uma marca definitiva foi também passada por Henri Cartier-Bresson ao decano dos fotojornalistas portugueses, João Ribeiro, que destacou no trabalho do autor francês “o instinto rápido de disparar para captar o melhor ângulo no melhor momento”.
João Ribeiro aproveitou o momento para assinalar igualmente a influência que teve na sua carreira um outro nome: “Joshua Benoliel, um grande fotojornalista português que trabalhou no princípio do século XX na ‘Ilustração Portuguesa’ do jornal ‘O Século’ e que, embora com um material distinto – de grandes dimensões, por oposição à pequena Leica de Cartier-Bresson – demonstrou a mesma extraordinária humanidade nas imagens que recolheu”.