O fotojornalista Anton Hammerl, de 41 anos, foi assassinado no início de Abril por tropas líbias, embora as autoridades do país tenham mantido a versão de que o repórter estava vivo e na companhia de três outros jornalistas.
No dia 18 de Maio, os três outros repórteres, detidos há seis semanas, foram libertados e um deles, James Foley, que trabalha para o GlobalPost, deu a notícia à família de Anton Hammerl.
Para a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), as autoridades líbias “deram mostras de uma enorme crueldade” para com a família do fotojornalista, fazendo-a acreditar que ele ainda estava vivo.
A 5 de Abril, os quatro jornalistas – James Foley, correspondente da agência GlobalPost, com sede em Boston, Clare Morgana Gillis, que escreve para The Atlantic, o fotógrafo espanhol Manuel Varela (mais conhecido como Manu Brabo) e o freelancer Anton Hammerl, que residia no Reino Unido – foram alvejados por soldados líbios numa zona desértica nos arredores de Brega.
Atingido no abdómen, Hammerl não terá resistido aos ferimentos, pois a última imagem que os colegas guardam dele é caído no chão e sem qualquer reacção.
Os outros três jornalistas foram libertados em Tripoli na semana passada mas, para a FIJ, o regresso de Foley, Gillis e Brabo à liberdade ficou ensombrado pela notícia de que mais um jornalista – o quinto – perdera a vida no conflito líbio, que teve início em meados de Fevereiro.
A notícia do assassinato de Anton Hammerl, que tinha dupla nacionalidade – sul-africana e austríaca –, surpreendeu também as autoridades da África do Sul, que alegam ter recebido indicações recentes da Líbia em como o repórter estava vivo, e as autoridades austríacas, que no final de Abril haviam afirmado publicamente estar em negociações com Tripoli para a sua libertação.
Perante a confirmação da morte, o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) exige que o governo líbio entregue o corpo do jornalista e que o papel das forças armadas na sua morte seja investigado.
De acordo com o CPJ, as autoridades líbias ficaram na posse do passaporte de Anton Hammerl, pelo que estavam informadas da sua sorte, tendo enganado deliberadamente a família, o que “não é apenas cruel, é ilegal” à luz da legislação humanitária internacional.
Além de Anton Hammerl, já morreram no âmbito do conflito os fotojornalistas Tim Hetherington, que trabalhava para a Vanity Fair, e Chris Hondros, em serviço para a Getty Images (a 20 de Abril, vítimas de um raide em Misrata), o líbio Mohamed “Mo” Al-Nabousque, que fora um dos fundadores da estação Al-Hurra (a 19 de Março, em Benghazi, atingido por um sniper), e Ali Hassan Al Jaber, operador de câmara da estação Al-Jazeera (a 12 de Março, numa emboscada em Benghazi).
Segundo a FIJ, estas mortes confirmam que o regime líbio não tem qualquer cuidado com a segurança dos jornalistas que fazem a cobertura dos confrontos no país, tendo-se a Repórteres Sem Fronteiras pronunciado no mesmo sentido e exigido que as autoridades em Tripoli e em Benghazi dêem, às respectivas tropas, directivas claras de respeito pelo trabalho dos jornalistas.
No âmbito do conflito na Líbia foram também detidos pelo menos 50 jornalistas, supondo-se que 15 deles – uns líbios, outros estrangeiros – ainda estejam nas mãos das autoridades locais.