FIJ diz que UE não deve criar códigos para jornalistas

Notícias de que a União Europeia (UE) estaria a preparar um código ético para jornalistas na sequência da polémica dos cartoons de Maomé motivaram críticas da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), que afirma que Bruxelas já foi avisada de que tal atitude “será inaceitável para toda as pessoas dos média”.

O secretário-geral da organização, Aidan White, diz que os assuntos éticos são inteiramente da responsabilidade dos profissionais dos média e não devem ter qualquer interferência política, cabendo à UE o simples papel de encorajar o diálogo profissional.

A FIJ avançou ainda que a polémica dos desenhos de Maomé será discutida na próxima cimeira internacional de organizações de liberdade de imprensa, marcada para final de Fevereiro em Bruxelas e onde um dos oradores será o comissário europeu Franco Frattini, que tem encorajado o diálogo profissional entre os jornalistas.

Ameaças de bomba contra jornais

Ao início da tarde de 6 de Fevereiro, as instalações do “France-Soir” em Issy-les-Moulineaux foram alvo de uma ameaça de bomba, que levou a polícia a evacuar o edifício e estabelecer um perímetro de segurança.

Ameaças similares foram efectuadas durante a passada semana contra outros jornais europeus que publicaram os cartoons de Maomé, fosse como parte de uma notícia ou em nome da liberdade de imprensa.

Entre os jornais ameaçados contam-se o diário dinamarquês “Jyllands-Posten”, o primeiro a publicar os desenhos, o semanário francês “Charlie Hebdo” e o diário holandês “De Volkskrant”.

Mandato de captura no Iémen

O procurador público do Iémen ordenou, a 6 de Fevereiro, a detenção de Abdulkarim Sabra, chefe-de-redacção do “Al Hurriya”, jornal que publicou a 2 de Fevereiro quatro dos doze desenhos de Maomé originalmente editados pelo “Jyllands-Posten”.

O jornalista deverá ser acusado ao abrigo do artigo 103 da lei de imprensa iemenita, que proíbe a impressão, publicação, circulação ou difusão “de qualquer coisa que prejudique a fé islâmica e os seus princípios ou diminua as religiões ou credos humanos”, podendo os infractores ser condenados até um ano de prisão.

O “Al Hurriya” foi o terceiro jornal de um país muçulmano a publicar os desenhos, depois de dois títulos jordanos o terem feito. Além do mandato emitido contra Abdulkarim Sabra, o jornal foi ainda mandado encerrar pelo Ministério da Informação e as suas edições foram removidas das bancas.

Apelo à tolerância do WPFC

O Comité Mundial para a Liberdade de Imprensa (WPFC) apelou à tolerância na polémica dos cartoons de Maomé, uma vez que os governos de países muçulmanos têm de compreender que as relações entre o Estado e a imprensa em democracias consolidadas não permite que o primeiro dite os conteúdos da segunda.

Embora reconheça a existência de dúvidas quanto ao gosto e oportunidade de algumas escolhas editoriais, o WPFC afirma que tais julgamentos são da exclusiva responsabilidade dos órgãos de informação.

O WPFC apela por isso a que tolerância neste caso seja mútua, pois enquanto os órgaõs de comunicação devem ter alguma sensibilidade cultural e religiosa, os habitantes e as autoridades dos países muçulmanos devem reconhecer que não podem censurar os média em sociedades com tradições diferentes da sua.

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