FIJ contabiliza 129 jornalistas mortos em 2004

Durante o ano de 2004 foram mortos, em todo o mundo, 129 jornalistas e trabalhadores dos média, afirma o relatório anual da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), apresentado a 18 de Janeiro em Bruxelas.

Considerando o ano que passou como “o pior ano de que há registo”, o secretário-geral da organização, Aidan White, voltou a apelar aos governos dos Estados Unidos e de outros países para que levem a sério a responsabilidade de investigar os assassinatos de jornalistas.

“Demasiadas vezes os governos demonstram uma indiferença cruel e impiedosa para com o sofrimento das vítimas e das suas famílias. E demasiadas vezes as chamadas investigações às mortes dos nossos colegas não passam de meros exercícios de branqueamento”, acusou o dirigente sindical.

Segundo Aidan White, depois de um jornalista sofrer um ataque, a impunidade e a injustiça são comuns, pois os governantes proferem palavras de lamento, abrem um inquérito e em seguida ficam indiferentes, o que é “indesculpável numa era em que o mundo depende mais do que nunca dos média para contar o que se passa”.

Um bom exemplo disso é o caso do ucraniano Gyorgy Gongadze, morto em 2000 por assassinos ligados a autoridades da Ucrânia, e cuja investigação não teve até hoje qualquer consequência.

Necessidade de novas regras internacionais

Outro trágico exemplo foi a investigação à morte de dois jornalistas no Hotel Palestina, a 8 de Abril de 2003 em Bagdade, na sequência de disparos de militares norte-americanos em plena luz do dia.

A FIJ recorda no seu relatório que desde o início do conflito no Iraque já morreram 69 jornalistas, sendo que 12 dessas mortes continuam por explicar, o que mostra a necessidade de novas regras internacionais para forçar investigações independentes às mortes de jornalistas.

Por esse motivo, a organização está a planear uma acção mundial para o dia 8 de Abril deste ano, data do segundo aniversário do ataque ao Hotel Palestina, em protesto contra o falhanço dos Estados Unidos em levar a cabo uma investigação séria ao caso.

A situação nas Filipinas

Outra situação preocupante de 2004 foi o assassinato de 13 jornalistas nas Filipinas e a reacção das autoridades ao caso, que se resumiu a duas investigações sérias – mas que não resultaram em nada –, e uma proposta de permitir o porte de arma aos jornalistas para que estes exercessem a sua autodefesa, criticada pela FIJ.

“É uma triste história de incompetência e falta de vontade política que ainda é pior devido à ideia absurda de que os jornalistas só se podem proteger se pegarem em armas. É este tipo de desresponsabilização dos governantes que torna a vida ainda mais perigosa para os jornalistas”, afirma Aidan White.

Tomar o destino nas próprias mãos

Apesar dos muitos aspectos negativos para o jornalismo associados a 2004, o relatório da FIJ também fornece algumas provas de uma nova atitude no seio da classe para enfrentar a crise.

Prova disso é a solidariedade para com os colegas de profissão afectados pelo terramoto na Ásia – acontecimento que merece uma secção especial no relatório – e os donativos de quase 30 mil euros para o Fundo Internacional de Segurança da FIJ, com vista a ajudar os jornalistas vítimas de violência e as suas famílias.

“Esta é a verdadeira solidariedade de jornalista para jornalista e vamos precisar muito mais dela nos anos vindouros”, disse Aidan White, elogiando também o trabalho que tem sido feito pelo Instituto Internacional para a Segurança da Imprensa (INSI), que recentemente abriu escritórios de segurança na América Latina e em África e, até ao final do mês, fará o mesmo na Ásia e no Médio Oriente.

Partilhe