FIJ condena relatório do Pentágono sobre a morte de jornalistas no Hotel Palestina

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) classificou o relatório do Pentágono sobre a morte de dois jornalistas no Hotel Palestina, em Bagdade, a 8 de Abril, como um “cínico branqueamento” dos acontecimentos.

O relatório do Pentágono, divulgado a 12 de Agosto, considera a morte dos jornalistas “um trágico e lamentável acidente” e insiste na tese da “legítima defesa”.

A 8 de Abril, quando as tropas norte-americanas avançavam para o centro de Bagdade, um tanque disparou contra o Hotel Palestina, atingindo o 15.º andar. O ataque provocou dois mortos – Taras Protsyuk, jornalista ucraniano ao serviço da agência Reuters, e Jose Couso, jornalista espanhol da estação de televisão Telecinco – e vários feridos. Aparentemente, os soldados tomaram os jornalistas que se encontravam às janelas, com as respectivas máquinas fotográficas e câmaras de filmar, por atiradores furtivos.

“Embora seja evidente que os soldados no terreno não podem ser responsabilizados”, afirmou o secretário-geral da FIJ, Aidan White, “os responsáveis militares e políticos foram negligentes” ao não os informar de que o Hotel Palestina acolhia mais de 200 jornalistas.

“Se os soldados soubessem que o hotel estava cheio de jornalistas, teriam certamente percebido por que razão havia pessoas com câmaras ou objectivas às janelas”, disse o representante da FIJ. “Mas ninguém lhes disse nada”.

“As famílias, amigos e colegas das vítimas têm o direito de saber porque é que essa informação não foi dada e de quem é a responsabilidade”, sublinhou Aidan White.

A FIJ, bem como todas as organizações sindicais norte-americanas suas filiadas, exigem uma “investigação independente” para apuramento da verdade sobre este trágico acontecimento.

Também a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) rejeitou as conclusões do relatório do Pentágono. “Todos os elementos de que dispomos tendem a provar exactamente o contrário da tese da legítima defesa”, afirmou ontem Robert Ménard, secretário-geral da RSF.

Segundo Ménard, falar de legítima defesa “é mentir”. O responsável da RSF lembrou que “estas conclusões da investigação são a enésima versão das autoridades militares norte-americanas sobre o que se passou a 8 de Abril”, e chamou a atenção para o facto de “todas elas serem contraditórias”.

“Hoje, quatro meses após o drama, e face à má fé das autoridades militares norte-americanas, é indispensável criar uma comissão independente de investigação, constituída por peritos internacionais, para esclarecer totalmente este assunto”, disse Ménard.

A RSF informou ainda que está a efectuar a sua própria investigação, cujos resultados divulgará em finais de Setembro.

O Comité de Protecção dos Jornalistas (CPJ) manifestou igualmente a sua apreensão face ao resultado das investigações do Pentágono, defendendo a necessidade da divulgação integral do documento, classificado de “confidencial”. O CPJ considera que as conclusões do relatório vindas a público “não respondem às questões de fundo sobre o incidente”.

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