Estatuto editorial

O estatuto editorial da revista «Jornalismo e Jornalistas» , definindo a sua linha de orientação, foi inserido na edição inaugural, correspondente ao primeiro trimestre do ano 2000. Além de cumprir uma obrigação determinada pela Lei de Imprensa, é um texto doutrinário que afirma princípios e define objectivos.

1. Nunca tanto como actualmente se fez sentir no campo jornalístico a necessidade de uma publicação que, de uma forma continuada e tanto quanto possível aprofundada, aborde os problemas da profissão nas várias vertentes teóricas e práticas.

Esta necessidade já não é nova, mas as tentativas de concretização – como, em 1987, o n.º 1 (e único) dos Cadernos de Imprensa – não tiveram a desejada sequência. Sendo que, entretanto, graças aos meritórios esforços das direcções sindicais, têm sido editadas, com maior ou menor regularidade, jornais e revistas de inegável interesse e utilidade, mas cujo âmbito, naturalmente, não é o mesmo.

A premência de uma tal publicação acentuou-se nos anos 90, devido às grandes transformações operadas na paisagem mediática nacional e consequentes reflexos não só no perfil social e profissional dos jornalistas mas também nas formas de conceber e praticar o jornalismo, com o aparecimento de novos condicionamentos e novos desafios, nomeadamente de natureza ética. E não será exagerado dizer que tudo isto, em última análise, tem a ver com a própria sobrevivência da profissão, pelo menos tal como até hoje ela tem sido entendida.

Foi neste contexto que o Clube de Jornalistas decidiu editar uma revista períodica que de algum modo concretizasse essa antiga aspiração.

2. JJ – Jornalismo e Jornalistas terá como grandes objectivos – e assim fica definido o seu Estatuto Editorial – constituir-se como:

– Estímulo a uma maior preocupação e consciencialização dos jornalistas acerca da prática da profissão e incentivo a que o trabalho quotidiano seja acompanhado e complementado por uma maior reflexão sobre essa prática e sobre o jornalismo em geral – a sua identidade historicamente construída, a sua natureza, os seus fundamentos, as suas funções, os seus contextos, os seus efeitos, as suas implicações, o seu lugar na sociedade.

– Contributo para o estudo e preparação por parte dos profissionais perante os novos desafios colocados ao jornalismo e aos jornalistas nos dias de hoje e no futuro previsível, nomeadamente devido ao impacte das novas tecnologias, aos novos enquadramentos organizacionais e empresariais, às novas exigências éticas e deontológicas.

– Estabelecimento de laços mais íntimos, e mutuamente vantajosos, entre o plano da prática profissional e os planos do ensino, da formação e da investigação, procurando diminuir o fosso que, com prejuízo para ambas as partes, tradicionalmente tem separado o mundo profissional e o mundo académico.

– Incentivo ao debate – entre os jornalistas, mas também no da sociedade em geral – sobre o jornalismo e as suas problemáticas repercussões, contribuindo quer para um melhor conhecimento público e dignificação social da profissão e dos profissionais, com base na realidade e não em mitos, quer para o devido reconhecimento da importância do jornalismo e da informação para a sociedade e para a democracia.

A vocação de JJ não é a de defender teses próprias nem tomar partido nos debates sobre o jornalismo e a vida da classe, mas sim a de proporcionar um espaço onde seja possível recensear e levantar os problemas, aprofundar a reflexão, disponibilizar a informação, facilitar o diálogo – assim procurando ajudar à melhoria da qualidade do jornalismo e dos jornalistas.

3. JJ procurará situar-se, tanto no que se refere a temas como às formas de abordagem, num registo intermédio entre o tratamento próprio da imprensa diária ou semanal, e o aprofundamento teórico característico das publicações académicas.

Não será uma revista de notícias sobre a actualidade, ainda que tendo a preocupação de abordar temas actuais e mesmo polémicos. Não será uma revista de estudos e ensaios, ainda que cada número inclua textos desse tipo.

Análises de maior desenvolvimento e ambição coexistirão com géneros jornalísticos mais «leves», num esforço de complementaridade susceptível de proporcionar leituras diversificadas e um cumprimento adequado e atraente dos objectivos referidos.

4. JJ será, naturalmente, uma revista de jornalistas e essencialmente a eles dirigida. De todos esperamos, aliás, críticas, sugestões, participação, sem as quais não alcançaremos os fins a que nos propomos.

Simultaneamente, e porque entendemos que o jornalismo e os jornalistas não se devem fechar sobre si próprios – como se fosse possível ignorar a sua íntima ligação à sociedade, da qual são um reflexo mas sobre a qual exercem influência – procuraremos que JJ seja também partilhada por outros profissionais da informação, professores, investigadores e estudantes, por todos quantos, enfim, motivados ou não por razões de trabalho, se interessam por estas problemáticas e são sensíveis à sua crescente importância social.

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