O Sindicato dos Jornalistas não pode deixar de assinalar o centenário do nascimento de Orlando Gonçalves, escritor, jornalista e homem dedicado à defesa da liberdade.
Foi precisamente a luta por esse valor, a Liberdade, que o levou pela primeira vez à cadeia, em 1943.
Ao longo dos anos esteve preso no Aljube e em Caxias tendo sido, até 1974, “carimbado” como adversário do Estado Novo e, durante 31 anos, vigiado pela polícia do regime.
Orlando Gonçalves estreou-se como escritor em 1948.
O seu primeiro romance, Tormenta, foi proibido pela Direção dos Serviços de Censura e apreendido pela Polícia de Informação e Defesa do Estado (PIDE). Teve, nas décadas de 40 e 50, uma participação de natureza cultural associada à intervenção política.
Nas suas obras incluem-se, entre muitas outras a edição de autor da novela Aleluia (1949) e o romance Alucinação (1950). A sua obra seguinte, o livro de contos “Este Mundo dos Homens”, foi o primeiro a ser publicado enquanto editor e com a chancela da Orion, em 1954.
Para além da imprensa, Orlando Gonçalves destacou-se também no programa radiofónico quinzenal «Literatura e Artes», da Rádio Peninsular, encerrado por pressão da PIDE.
No início dos anos 60, iniciou a profissão de jornalista tendo colaborado no Planície, periódico de Moura, Primeiro de Janeiro, do Porto, e Modas e Bordados, de Lisboa. Fá-lo sem que tal estatuto fosse reconhecido, visto que a ditadura negava a qualidade de jornalista a quem trabalhasse na imprensa regional ou na imprensa desportiva.
Nesta homenagem, o SJ destaca ainda a ligação ao Notícias da Amadora apesar de o regime nunca ter permitido que se assumisse como proprietário, editor e diretor do jornal.
Passados anos, o Notícias da Amadora foi considerado «um dos três jornais portugueses de “oposição” ao governo». A resistência do jornalista em relação à ditadura determinou a sua prisão em 18 de abril de 1974 tendo sido libertado da prisão de Caxias a 25 de Abril desse mesmo ano.
Já em democracia, Orlando Gonçalves torna-se presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Oeiras, a que presidiu até às primeiras eleições autárquicas. A sua ação contribuiu para a Amadora se separar de Oeiras, tendo sido o primeiro município a constituir-se após o 25 de abril.
Em 1998, e a título póstumo, o seu nome passou a designar o prémio literário instituído pela Câmara Municipal da Amadora. O Prémio Literário Orlando Gonçalves distingue anualmente, e de forma alternada, uma obra de ficção narrativa e um trabalho jornalístico de investigação. Em 2021, na sua 24ª edição, o prémio vai galardoar uma ficção narrativa.