O Sindicato dos Jornalistas (SJ) tomou conhecimento, com surpresa e choque, da intenção da Medialivre proceder a um despedimento coletivo, focado nos fotojornalistas, que vai reduzir o número de trabalhadores em órgãos como o “Correio da Manhã”, o “Record”, “Jornal de Negócios” e a revista “Sábado”, por exemplo. Anunciar um despedimento coletivo na véspera do Dia do Trabalhador, que assinala mundialmente para as conquistas laborais do passado, cada vez mais deterioradas, é inqualificável. O despedimento de jornalistas é grave o suficiente, ainda por cima num grupo que diz dar lucro, para dispensar a diatribe insultuosa de o comunicar na véspera do 1 de Maio. O SJ apela a que todos os jornalistas para que se mobilizem: em solidariedade com os camaradas da Medialivre, juntem-se amanhã ao bloco do Sindicato dos Jornalistas na manifestação do 1 de Maio de Lisboa, que parte às 14h30 da Praça do Martim Moniz.
Mesmo ignorando a data, o SJ está chocado pela forma como este despedimento coletivo foi comunicado aos trabalhadores: um facto consumado, sem qualquer hipótese de diálogo, e com pressa em dispensar estes colegas. Com o concluir de um dito processo de modernização e adaptação da estrutura produtiva (Projeto Alfa), que supostamente implicaria uma tranquila evolução, contando com todos os trabalhadores para o caminho de sucesso ambicionado, agora, sem aviso prévio, já há necessidade de reduzir os quadros. E o grupo escolhe comunicar despedimentos a pelo menos a dez trabalhadores – apanhando uns em serviços, outros de folga ou de férias – numa sequência apressada de reuniões, convocadas de véspera. Uma rapidez de procedimento tal que parece querer colocar pressão e extirpar os trabalhadores do direito a refletir ou obter apoio jurídico. O SJ, desde logo, lembra os seus associados de que poderão recorrer aos serviços jurídicos gratuitos do sindicato.
E o SJ está surpreendido, já que o grupo Medialivre, que tem o futebolista Cristiano Ronaldo como maior acionista, é dos poucos em Portugal que apresenta resultados financeiros positivos. Lamenta-se que Ronaldo (que a revista Forbes estima ter tido um vencimento de mais de 250 milhões de euros no ano passado) tenha comprado uma parte significativa da empresa para, a seguir, permitir que se procedam a despedimentos. Das duas uma: ou não sabe e, enquanto maior acionista, deve clarificar a sua posição de imediato ou sabe e, a ser assim, fica conotado como sendo um dos donos de mais uma empresa do setor que, ao invés de pensar o futuro de forma sustentável, faz o mais fácil e o mais básico em termos de gestão: despedir. O futebolista que é, também, ou pelo menos noticiado, como sendo um filantropo da caridade, poderia, pelo menos, pensar nas consequências que uma situação de desemprego acarreta para uma dezena de pessoas. É que quando se é solidário à partida pode dispensar-se a caridade à chegada.
Este procedimento, que vamos contestar por todas as vias, configura mais uma estocada profunda na fotografia, uma linguagem jornalística que está a ser levada à morte por administradores e diretores de empresas de comunicação social em Portugal. Muitas publicações conformam-se a usar fotos de propaganda das assessorias de imprensa de câmaras municipais, clubes de futebol e agências de comunicação, numa perfeitamente clara incompatibilidade entre publicidade, assessoria e o exercício do jornalismo. Outras, exigem fotos de telemóvel a redatores ou imagens amadoras do público.
Temos relatos de casos de sobrecarga de trabalho e de desrespeito pelos direitos dos trabalhadores e das pessoas em redações da Medialivre. Sabemos que há jornalistas que se sentem assoberbados com trabalho, sentindo que os seus direitos não são integralmente respeitados. E sabemos que as empresas cada vez se sentem mais livres para atacar os trabalhadores. Exortamos todos os trabalhadores da Medialivre a sindicalizarem-se, dando força ao SJ para negociar em seu nome, e protegendo-se pela união. É preciso força coletiva: hoje são aqueles 10, amanhã qualquer um ou todos. Ao despedir jornalistas é mais difícil fazer jornalismo. Uma redação que se reduz, põe-se a jeito para ir minguando. É urgente defender o jornalismo.