Directores da EFE e da RTVE acusados de manipulação

Os trabalhadores da EFE e da RTVE acusam os respectivos directores de informação de “censura” e de “manipulação de informação” após os atentados de 11 de Março, pelo que exigem a sua demissão, noticiou o “El Mundo”.

Em comunicado divulgado a 15 de Março, a Comissão de Trabalhadores (CT) da agência noticiosa espanhola EFE anunciou a sua decisão, tomada por unanimidade, de exigir a destituição imediata do director de informação, Miguel Platón, devido ao “regime de censura e manipulação imposto após os atentados de 11 de Março”. Segundo os trabalhadores, estas medidas levaram à ocultação de dados sobre a investigação policial.

Segundo a comissão, a EFE soube na própria manhã dos atentados em Madrid da existência de indícios que apontavam para a pista árabe, mas a direcção ordenou a censura prévia de toda a informação relacionada com a investigação policial, tendo o próprio Miguel Platón escrito as notícias que apontavam o dedo à ETA, já que “os jornalistas da editoria Nacional se negaram a fazê-las.”

O objectivo do director de informação, afirmam os trabalhadores, era favorecer os interesses do Partido Popular nas eleições de 14 de Março, razão pela qual proibiu a difusão de declarações de dirigentes da oposição no sábado, dia em que a EFE gravou declarações do ministro porta-voz Eduardo Zaplana na sua sede.

Acusando a CT de “difamação profissional”, a direcção da agência estatal alega que as informações sobre a investigação policial foram trabalhadas como é habitual por parte de uma agência de notícias responsável, tendo a informação difundida tido sempre origem em fontes oficiais.

Também debaixo de fogo está o director de informação da RTVE, Alfredo Urdaci, que viu o seu posto contestado por cerca de 60 trabalhadores afectos ao sindicato Comisiones Obreras, que o acusam de “manipulação informativa” e exigem a sua demissão para recuperar a credibilidade da televisão pública espanhola.

Entretanto, confirma-se que o próprio primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, telefonou no dia dos atentados a directores de órgãos de informação de Madrid e Barcelona insistindo que a responsabilidade era “sem dúvida” da ETA. Antonio Franco, director do diário de Barcelona “El Periodico”, afirma hoje, 16 de Março, no site do jornal, ter recebido o primeiro telefonema de Aznar ao fim da manhã de quinta-feira, depois de ter manifestado dúvidas sobre a autoria do ataque terrorista, durante um programa da rádio nacional espanhola. “Não podes ter qualquer dúvida, foi a ETA”, terá dito Aznar.

“Convencido de que o presidente do governo do meu país era incapaz, no exercício do seu cargo, de me dar garantias sobre um assunto sem delas ter a certeza, decidi lançar uma edição especial com a manchete “O 11 M da ETA”, escreve Antonio Franco.

Ao fim da tarde do mesmo dia terá havido um segundo telefonema, após o ministro do Interior, Angel Acebes, ter aparecido na televisão insistindo na tese da ETA, mas sem pôr de parte todas as pistas de investigação.

“Aznar desculpou-se de não ter podido falar-me antes da intervenção de Acebes sobre a existência de outra pista de inquérito, mas pediu-me de modo cordial para não me enganar e reafirmou que a ETA fora a autora” do massacre, garante o director de “El Periodico”. A 12 de Março, o jornal já titulava na primeira página que “Al-Qaeda reivindica em Londres o atentado” e “os islamitas estabelecem uma ligação entre os atentados e o Iraque”, remetendo para o subtítulo que “Aznar mantém que a ETA é a autora do ataque”.

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