Direcção da TSF demite-se face a exigências da administração

O Conselho de Redacção da TSF divulgou um comunicado em que dá conta da “preocupação” criada na rádio pelas intenções de despedimento que lhe foram manifestadas pelo conselho de administração. Intenções que levaram, no dia 23, à demissão de toda a equipa de direcção da rádio e de dois editores.

O director da TSF, Carlos Andrade, não aceitou a redução de meios e de trabalhadores exigida pelo conselho de administração e demitiu-se. Demitiram-se, também, o director-adjunto, Fernando Alves, o subdirector, António José Teixeira, o secretário-geral, Manuel Villas Boas, e os editores Helena Vieira e Manuel Acácio.

É o seguinte o texto integral do comunicado do Conselho de Redacção da TSF:

O Conselho de Redacção (CR) foi convocado pelo Conselho de Administração (CA) para uma reunião, ao fim da tarde do dia 23 de Julho. A reunião, convocada ao abrigo do artigo 13 da Lei de Imprensa, destinou-se a informar o CR da demissão do director da TSF-Rádio Notícias, Carlos Andrade, e da nomeação, como novo director, do jornalista José Fragoso.

O presidente do CA informou o CR de que a demissão do director se fica a dever a um desentendimento quanto aos meios necessários para levar a cabo uma reestruturação da grelha prevista para Setembro. “O director entendeu que com menos meios e menos pessoas não consegue assegurar a qualidade editorial da rádio e nós discordamos”, afirmou o presidente do CA.

A intenção do CA é “reduzir bastante a plataforma de custo” da TSF, o que implica uma “movimentação em termos de pessoal”. Concretizando: “No processo de reestruturação pode haver despedimentos? Pode”, revelou o presidente do CA. Questionado pelo CR sobre a eventual existência de alguma lista de trabalhadores a despedir, o presidente do CA garantiu que “não há nenhuma lista de Schindler, nem está definido o número de trabalhadores a dispensar”. Revelou, contudo, que “o nível do grupo” que compreende a TSF, o DN e o JN faltará ainda concretizar “cerca de 90 rescisões”. O CA pretende ter concluído o processo de reestruturação “num período de seis meses”. Não tendo presentes os números exactos sobre a redução de custos já projectada pelo CA, o presidente disponibilizou-se a fazer chegar ao CR esses dados até à próxima sexta-feira.

Quanto ao modelo de rescisões a adoptar, o presidente do CA garantiu que “só iria para o despedimento colectivo se tivesse esgotado todas as hipóteses” e acrescentou que “o despedimento colectivo é uma bomba atómica mas convém que o trabalhador saiba que está à mão da administração”.

Ainda no que diz respeito à forma como serão concretizados os despedimentos, o presidente do CA enfatizou que “vamos fazer as coisas com sensibilidade”, pôs de parte a hipótese de vir a ser aberta uma oferta geral de rescisão aos trabalhadores e, questionado pelo CR, admitiu que a forma a usar poderá vir a ser a de “convidar individualmente pessoas à rescisão ou arranjar formas de o fazer”. Quanto aos valores de indemnização a propor, nesse caso, aos trabalhadores, o presidente do CA afirmou, referindo-se ao grupo empresarial de que faz parte a TSF, que “nós não estamos entre os mais generosos”.

Em relação ao projecto editorial da rádio, foi garantida ao CR a intenção de “manter a TSF como uma rádio de notícias”. O presidente do CA assegurou ainda que “não gostaria que houvesse um desvio da matriz fundadora”. O novo director entrará em funções a 18 de Agosto, sendo assegurada a transição pela direcção demissionária.

O CA “não assume como meta” a duplicação de audiências, objectivo da nova grelha, segundo o director demissionário na anterior reunião do CR. “Queremos crescer substancialmente nas audiências”, revelou o presidente do CA, admitindo, no entanto, que “temos os meios humanos mas não logísticos” para duplicar as audiências.

A nova grelha, que o CA quer ter no ar até ao final de Setembro, pretende “entrar em novas áreas: quer no segmento das mulheres, quer no segmento dos jovens”. Como exemplo de um sector onde as movimentações de pessoal podem vir a implicar tanto saídas como entradas de pessoal, o presidente do CA referiu a “animação e edição de música, sector onde talvez sejam necessárias pessoas com competências que, nesta altura, não temos”. Acrescentou: “Queremos trabalhar com os melhores, nesta altura não temos os melhores”.

O presidente do CA revelou que, quanto à nova grelha, “existe um consenso de 98%, faltando acertar dois pontos: a duração dos noticiários standard e a duração do noticiário da meia-noite”. Acrescentou ainda que “o novo director está identificado com a nova grelha”.

Na reunião, os membros eleitos do CR manifestaram “surpresa” e “preocupação” perante as informações do CA.

Nos termos da lei, cumprindo ao CR dar parecer sobre o novo director nomeado pelo CA, o órgão representativo da redacção da TSF-Rádio Notícias considera que, não estando em causa a competência profissional do jornalista José Fragoso, só a prática concreta e a garantia da manutenção integral do projecto TSF podem dar resposta às muitas dúvidas que os últimos desenvolvimentos instalaram na redacção da TSF.

Nesta reunião, estiveram presentes os membros do Conselho de Redacção Carlos Raleiras, Carlos Vaz Marques, Cristina Lai Men, João Paulo Baltazar e Paulo Alves Guerra.

Lisboa, 24 de Julho de 2003

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