Dionísio Andrade apela à unidade dos jornalistas

O presidente da Direcção Regional da Madeira do SJ, Dionísio Andrade, apelou à unidade dos jornalistas da Região Autónoma, face às crescentes ameaças à independência e ao exercício digno da profissão. Falando na tomada de posse da direcção regional, a 27 de Maio, no Funchal, lembrou a importância de uma Imprensa livre para a Madeira.

O discurso de tomada de posse do presidente da Direcção Regional da Madeira do SJ, Dionísio Andrade

“As minhas primeiras palavras são de agradecimento a todos os sócios que votaram no passado dia 2 de Maio, independentemente do seu sentido de voto. A lista candidata a mais um mandato à frente dos destinos da Direcção Regional da Madeira do Sindicato dos Jornalistas obteve 85 % dos votos expressos. Apenas 15 % dos votantes não se identificaram com esta lista, ou então quiseram dar-lhe o benefício da dúvida.

“Se este resultado a todos nós dá satisfação e muita alegria pela confiança depositada, por outro lado, dá-nos maior responsabilidade. Isto significa que a maioria dos sócios querem uma direcção a defender direitos e a atacar desrespeitos, como foi aliás, o slogan do nosso manifesto eleitoral.

“Vamos uma vez mais tentar não defraudar as expectativas criadas nesta longa e dura caminhada que iniciámos hoje. Estamos conscientes das dificuldades que nos espreitam nos próximos tempos. Por isso a nossa energia terá de ser redobrada, a fim de atacar os desrespeitos que os jornalistas estão a sofrer.

“Que dizer das horas extras, que os jornalistas fazem depois de cumprirem o seu horário normal de trabalho, e que não são remuneradas?

“Que dizer dos contratos a prazo, que algumas empresas impingem aos jovens jornalistas, que estão agora a começar na profissão, com o carimbo da exclusividade, e não recebem os 50 por cento de acréscimo do salário base, como estipulam alguns contratos colectivos?

“Que dizer de algumas tarefas que impingem aos jornalistas, e que violam nitidamente o seu estatuto profissional, mas acima de tudo a sua dignidade?

“Sou por natureza uma pessoa optimista, mas o futuro que se avizinha não traz coisa boa, tal como diz o provérbio popular do vento que vem de Espanha.

“Os jornalistas madeirenses têm de estar unidos nos próximos tempos com o seu sindicato, se quisermos em conjunto, defender os nossos direitos. Os atropelos à nossa dignidade profissional continuam.

“Que dizer das empresas que não aumentaram os salários dos jornalistas este ano?

“Que dizer das empresas que pretendem aumentos vergonhosos abaixo da taxa de inflação?

“Que dizer dos jornalistas que ainda não estão abrangidos por um contrato colectivo de trabalho, e estão dependentes de uma esmola do patronato? “Aqui o Sindicato dos Jornalistas responsabiliza pela primeira vez as entidades que têm o dever e os meios legais, de fazer sentar à mesa das negociações aqueles que sempre se esquivaram a negociar.

“Que dizer da precariedade na nossa profissão? Como é que um jornalista que se preze pode ser independente, aliás como determinam o nosso Estatuto e Código Deontológico, se está pendurado num contrato que caduca dentro de dias, e eventualmente poderá não ser renovado? E muitos outros problemas poderiam ser aqui referidos.

“Em 20 anos de profissão, eu nunca vi nada assim. Isto significa que os jornalistas estão a perder uma das suas armas fundamentais na profissão, que é a independência face a qualquer poder, seja ele qual for.

“Nos últimos anos, dezenas de bons jornalistas têm abandonado a profissão e enveredado por outras carreiras profissionais, que lhes dão melhores garantias de futuro. Este dado é significativo, porque demonstra, na maioria dos casos, um certo desencanto, porventura uma certa frustração com esta profissão, que é mal paga, e que por vezes se desvia dos princípios básicos que norteiam a nossa actividade.

“Onde está a consciência crítica dos mais velhos na profissão, que anos atrás eram uma referência para os que estavam a começar esta actividade? “Onde estão os Conselhos de Redacção, como determina a lei, e que são uma garantia de liberdade, independência e democraticidade dentro dos órgãos de comunicação social?»

“Não vamos desanimar perante tanta adversidade. Mas que a situação é complicada, ninguém tenha dúvidas.

“Os jornalistas e a comunicação social constituem um dos pilares fundamentais de uma democracia, e são muito mais importantes numa autonomia. Sem uma verdadeira liberdade de imprensa não há democracia que resista. O mesmo princípio se aplica a uma autonomia.

“Ser jornalista na Região Autónoma da Madeira é mais difícil do que ser jornalista no Continente. Por variadíssimas razões. Por questões geográficas e de proximidade com os vários poderes instituídos, e porque há gente que continua (embora menos nos últimos tempos) a machucar a nossa dignidade como profissionais da comunicação social, mas acima de tudo a machucar a nossa dignidade como seres humanos.

“Um governo, uma autarquia, ou uma instituição pública que se rege pela máxima transparência dos seus actos não tem medo de uma imprensa livre e forte. Só têm medo aqueles que não podem mostrar transparência. Que funcionam na vida pública, nos bastidores e nos subterrâneos.

“Espero que os jornalistas madeirenses continuem a dignificar a sua profissão, porque a sua credibilidade também depende em muito da sua postura no dia-a-dia, na sua forma de estar com as fontes de informação, e acima de tudo da sua máxima independência.

“Nunca me canso de dizer que o bem mais precioso do jornalista é a sua credibilidade. Quantos preferem andar de mão dada com os vários poderes, não se preocupando com o facto de estarem a hipotecar irremediavelmente o seu estatuto de independência.

“Uma última palavra para o Emanuel Silva que deixa agora a direcção cessante. O Emanuel Silva foi uma peça fundamental no trabalho desenvolvido pelo Sindicato dos Jornalistas na Região. Tomou posições incómodas até para a sua actividade profissional, para defender direitos de colegas. Foi muitas vezes o porta-voz das posições públicas que este Sindicato tomou em defesa dos jornalistas, como por exemplo, na recente manifestação na RTP/Madeira.

“O Emanuel Silva foi também o amigo solidário, e muitas vezes o travão dos ímpetos mais emocionais da minha pessoa. Tive pena de não conseguir convencê-lo a continuar. Bem tentei, mas não foi possível. De qualquer forma espero continuar a poder contar com os seus conselhos ponderados, o seu conhecimento jurídico e, acima de tudo, a sua amizade.

“Penso que também fiz uma boa escolha, ao convidar o Miguel Fernandes Luís para substituir o Emanuel Silva. Porque o sucesso de uma direcção está na boa escolha da equipa.

“Por fim gostaria de agradecer a presença nesta tomada de posse do presidente Alfredo Maia, que nos orgulha, na certeza que o nosso relacionamento será cada vez mais profícuo e próspero, a bem dos jornalistas madeirenses. Nem sempre os nossos pontos de vista foram coincidentes, e se publicamente mostrámos algum desagrado pela sua inclusão nas listas de um partido político enquanto presidente do Sindicato, foi apenas com a intenção de salvaguardar a conotação política e partidária que poderia ser dada à nossa classe.»

“Como presidente da Direcção Regional da Madeira do Sindicato dos Jornalistas sou o primeiro a reconhecer a sua capacidade de trabalho, o dinamismo que imprimiu no Sindicato, que não se via há muitos anos, e acima de tudo as frentes de luta que abriu em vários sectores para dar melhores condições de vida e trabalho aos jornalistas portugueses.

“Um agradecimento também ao presidente da Direcção Regional dos Açores do Sindicato dos Jornalistas, Nuno Mendes, que representa nesta cerimónia os nossos colegas açorianos, por ter manifestado desde a primeira hora a disponibilidade de vir ao Funchal a esta tomada de posse. Que a sua presença na Madeira signifique um abrir de portas para o estreitamento das ligações dos jornalistas madeirenses com os jornalistas açorianos.”

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