Deliberação sobre queixas apresentadas relativamente à entrevista da RTP ao candidato presidencial André Ventura

Chegaram ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CD) três queixas relacionadas com a entrevista realizada pelo jornalista João Adelino Faria ao candidato presidencial André Ventura (RTP1, 15 de dezembro 2020).

Entre os argumentos dos queixosos pode ler-se que “o Jornalista que conduziu a entrevista não dignificou a classe, apresentando-se de forma agressiva e tendenciosa, parecendo mais um candidato que jornalista, interrompendo de forma sistemática a apresentação das ideias e dos argumentos do entrevistado e mais grave ainda, opinando e apresentando conclusões em que parecia mais um julgamento pessoal ao candidato, faltando mesmo muitas das vezes ao respeito, julgando que esta situação deveria ser devidamente avaliada” ou que “desde o 1º segundo da mesma se notou o tom hostil do mesmo para com o candidato. Essa hostilidade e agressividade eram visíveis, quer sob a forma do tom de voz e expressão facial, bem como pelas consecutivas interrupções e repiques provocatórios”.

Recebidas as queixas e analisada a entrevista, entende o CD que:

  • Não pode esta entrevista ser vista isoladamente do ciclo de outras entrevistas a candidatos presidenciais que a RTP está a emitir, conduzidas pelo mesmo jornalista (foram visionadas por isso as de Marisa Matias e João Ferreira).
  • O entrevistador assumiu em todas elas um posicionamento bastante interventivo, pedindo aos entrevistados respostas diretas e o mais objetivas possíveis, o que poucas vezes sucedeu. Perante isso, o entrevistador não desistiu dos temas, como muitas vezes acontece noutras circunstâncias, e insistiu;
  • Talvez pelo escasso tempo disponível (entre 28 e 30 minutos), as entrevistas foram marcadas por muitas interrupções por parte do jornalista, no sentido de obter a resposta à pergunta formulada – e disso se queixaram alguns dos entrevistados. O CD reconhece que essas interrupções, legítimas do ponto de vista do jornalista e em muitos casos até desejáveis, podem não ser bem interpretadas pela opinião pública, muito mais porque essa acutilância é cada vez mais rara nas entrevistas televisivas;
  • Em geral, o CD considera que as três entrevistas visionadas são globalmente coerentes, seguindo um mesmo estilo, apenas variando em função do perfil/respostas de cada entrevistado, o que é perfeitamente natural;
  • Embora este tópico possa ser motivo de outras interpretações, o CD entende que algumas observações (de natureza opinativa) feitas pelo entrevistador durante a entrevista a André Ventura devem ser interpretadas como uma derradeira tentativa do jornalista em obter uma reação do entrevistado e não como comentários pessoais sobre o entrevistado;
  • A terminar, o CD insta a RTP e o jornalista em causa a seguir para as restantes entrevistas o mesmo estilo de questionamento e a assumir a mesma postura interventiva.

19/12/2020

Partilhe