Dança da presidência continua na RAI

A nomeação de Lucia Annuziatta para assumir os destinos da RAI elevou para três o número de presidentes da televisão pública italiana nos últimos meses, num processo marcado pelo conflito de interesses do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

Repórter de guerra e correspondente em Washington de jornais como o “La Reppublica”, Lucia Annuziata é uma jornalista respeitada e conhecedora da estação pública, onde já apresentou programas e dirigiu a informação da RAI 3. Mas a sua nomeação, no dia 14, ocorreu menos de 24 horas após a saída de Paolo Mieli, também ele uma personalidade consensual e respeitável, mas que permaneceu apenas seis dias no cargo de presidente da televisão do Estado.

Paolo Mieli colocara três condições, não negociáveis, a Silvio Berlusconi. Entre estas estavam a total independência na nomeação do director-geral e o regresso à antena de dois jornalistas cujos programas acabaram por ser demasiado críticos do primeiro-ministro, nomeadamente o “talk show” político de Michele Santoro.

“Ao fim de seis dias sem ter uma resposta positiva, fui ter com eles e agradeci-lhes o convite”, disse o ex-director à imprensa italiana, em declarações citadas no sítio da agência italiana AGI.

As queixas por ingerência do Governo haviam estado na origem da demissão do antecessor de Paolo Mieli. O cargo de presidente da RAI tem sido oferecido a personalidades sem ligações à maioria de direita no poder, mas o presidente tem de partilhar a gestão do canal com quatro administradores nomeados próximos dos partidos do Governo.

Os sindicatos de jornalistas saudaram a nomeação da nova directora, mas avisaram para as condições difíceis que terá de enfrentar. “Tenho estima e amizade por Lucia Annuziata, a quem espera a árdua tarefa de verificar as condições da sua presidência”, disse o secretário-geral da Federazione Nazionale Stampa Italiana/Sindicato Unitario dei Giornalisti ItalianI (FNSI), Paolo Serventi Longhi. O presidente da federação sindical lembrou que a definição do estatuto da autonomia da estação e a nomeação do director-geral serão as questões decisivas, uma advertência já ouvida à FNSI aquando da nomeação de Paolo Mieli.

A oposição a Berlusconi, que dera o seu apoio ao anterior director, lamentou que Annuziata não tenha assumido o compromisso de trazer de volta à RAI o programa de Santoro. “Berlusconi aceitará tudo excepto uma RAI autónoma e competitiva”, afirmam. Lucia Annuziata respondeu ser independente face à oposição ou à maioria no poder e declarou que quer “fazer algo decente, mas dando um passo de cada vez”.

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