O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas rejeita as críticas feitas pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, aos jornalistas portugueses, e informa o senhor primeiro-ministro que os auriculares são utilizados para transmitir e receber informações no decurso dos trabalhos de reportagem, e não por que “está tudo teleguiado, está tudo predeterminado”, como se lê no informe publicado no site do XXIV Governo sobre a intervenção de Luís Montenegro numa conferência intitulada “O Futuro dos Media”.
O Conselho Deontológico lembra ainda que o jornalismo é intranquilo porque questiona, interroga, investiga, reflete, relata, comunica e interage com os destinatários. Quem escolheu esta profissão tem disponibilidade e dedicação aos deveres do jornalismo, e o termo “ofegante” – usado pelo senhor primeiro-ministro – não retrata o importante contributo desta classe profissional para a construção do Portugal democrático, nos últimos 50 anos. Se a reflexão e a serenidade são aliadas do jornalismo, a intranquilidade e a urgência também o são, e foram determinantes para muitos exercerem esta profissão no tempo da ditadura do Estado Novo.
O CD considera que uma redução do número de efectivos da RTP não favorece as boas práticas do jornalismo, porque estas exigem tempo, pesquisa e reflexão. O exercício do jornalismo de qualidade exige recursos humanos que sejam capazes de garantir o cumprimento do Código Deontológico dos Jornalistas.
O CD alerta ainda para os riscos de degradação das condições e horários de trabalho que podem advir do anunciado plano de saídas voluntárias para a RTP, que tem como “teto a saída de 250 trabalhadores (com a contratação de 1 novo trabalhador com perfil diferente – digital – por cada duas saídas.)”, como se lê no informe disponibilizado no site do Governo.
O CD lembra ainda que o anunciado fim da publicidade no canal público não vai favorecer o trabalho de reportagem, nem a sobrevivência de delegações fora dos grandes centros urbanos, nos países de expressão de portuguesa ou naqueles onde existem comunidades lusófonas que merecem ser objecto do olhar do serviço público de jornalismo.
O CD está solidário com a tomada de posição do Sindicato dos Jornalistas, após a apresentação do primeiro-ministro do que o SJ classifica de “plano insuficiente para os Media“, e que foi apresentado esta terça-feira – em Lisboa – numa Conferência Sobre o Futuro dos Media, promovida pelos e para os responsáveis privados do sector privado .
O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas
Lisboa, 8 de outubro de 2024