Conclusões preliminares da missão da FIJ ao Nepal

Falta de segurança dos jornalistas, censura, perda de empregos e ausência de notícias independentes é o cenário da comunicação social no Nepal segundo a missão de urgência enviada àquele país pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

Com a missão ainda a meio, o relatório preliminar da FIJ ilustra como o golpe real de 1 de Fevereiro afectou directamente a liberdade de imprensa e, consequentemente, a democracia no Nepal, promovendo “um clima de medo e auto-censura”.

“Em resultado da censura governamental foram fechados órgãos de comunicação, presos jornalistas, o público não sabe o que se passa e perto de 800 jornalistas perderam o emprego”, descreve Christopher Warren, presidente da FIJ.

A organização considera que existem quatro pontos principais de preocupação em relação à situação da imprensa no país: a segurança dos jornalistas, a censura, a perda de postos de trabalho e a falta de notícias independentes.

Em relação à segurança dos jornalistas, a FIJ destaca que as detenções do secretário-geral da Federação de Jornalistas Nepaleses (FNJ), Bishnu Nisthuri, a 4 de Fevereiro, do jornalistas D.R. Panth, do “Kantipur”, a 13 de Fevereiro, e dos profissionais Basant Prajuli, do “Gorkhapatra Daily”, e Narayan Adhikari, do órgão estatal “Rastriya Samachar Samiti”, a 15 de Fevereiro.

Neste âmbito, a organização está ainda preocupada com a situação de Taranath Dahal, presidente da FNJ, que optou pela clandestinidade depois de ter sido perseguido por expressar num comunicado fortes críticas às acções do rei Gyanendra.

A FIJ lamenta ainda a introdução de “linhas de orientação” sobre o que os jornalistas deviam noticiar e o sistema de censura que se instalou no país e que tem quatro vertentes: censura directa que proíbe notícias críticas do rei e do governo ou “publicidade” aos maoístas; auto-censura devido ao medo de represálias do exército ou do encerramento das publicações; corte de telecomunicações que tem afectado o trabalho jornalístico em áreas remotas; e a proibição de transmissão de notícias por parte das rádios FM e a suspensão das emissões dos canais televisivos Aaj Tak, Zee News, NDTV, Star News e Doordarshan News (todos indianos) e Channel One (uma tv privada nepalesa).

As acções governamentais levaram ainda a que 800 jornalistas estejam temporariamente sem trabalho nas rádios FM, sendo que o prolongar das restrições poderá levar à perda permanente dos seus postos de trabalho.

Por fim, a falta de notícias independentes é uma consequência directa da censura, e tem-se feito sentir especialmente nos locais remotos, onde a missão da FIJ encontrou aldeões que se disseram frustrados e criticaram o facto das rádios apenas transmitirem música e dos jornais não falarem da situação política do país.

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