Chen Guidi e Wu Chuntao ganham o prémio Lettre Ulysses

Um júri composto por escritores representantes de dez idiomas atribuiu o galardão Lettre Ulysses da Arte da Reportagem aos autores chineses Chen Guidi e Wu Chuntao, que com a obra “Survey of Chinese Peasants” arrebataram os 50 mil euros do prémio.

O livro, editado em 2003, resulta de uma investigação sobre as condições económicas, sociais e políticas em que vivem cerca de 900 milhões de camponeses na China, sobretudo na parte Oeste do país, e mostra o despotismo, as arbitrariedades, a corrupção, a falta de leis, os impostos injustos e a violência, por vezes extrema, que afecta essa faixa populacional.

A obra, que também mostra como a industrialização da China se tem feito sobretudo às custas do empobrecimento dos camponeses, vendeu vários milhares de exemplares até ter sido retirado das livrarias oficiais por ordem do governo, encontrando-se agora apenas disponível através de cópias piratas.

O segundo prémio, no valor de 30 mil euros, distinguiu Tracy Kidder, dos Estados Unidos, pelo livro “Mountains Beyond Mountains. The Quest of Dr. Paul Farmer, a Man Who Would Cure the World”, que relata as tentativas do antropólogo e médico Paul Farmer em desenvolver estruturas de saúde capazes de subsistir em condições de extrema pobreza no Haiti, Peru e Rússia.

O terceiro galardão, de 20 mil euros, foi para Daniel Bergner, também dos EUA, pelo seu “Soldiers of Light”, de 2004, no qual reuniu textos e imagens acerca da guerra civil na Serra Leoa – incluindo a situação das crianças-soldado, dos missionários e dos mercenários – de forma a mostrar como a contenda está a destruir as relações sociais, a levar à perda de esperança e de dignidade e, em suma, a causar o colapso do país.

Os restantes finalistas, que receberam como prémio uma “estadia cultural” em Berlim, foram os norte-americanos Howard W. French, por “A Continent for the Taking: the Tragedy and Hope of Africa”, e William Langewiesche, por “American Ground. Unbuilding the World Trade Center”; o francês Jean Hatzfeld, por “Une Saison de Machettes”; e o português Paulo Moura, autor de “Missnana. O sono leve da morte & Um bebé é um passaporte para o Céu”.

O júri do Lettre Ulysses incluiu apenas autores bem familiarizados com o género da reportagem e contou com as presenças do jornalista português Pedro Rosa Mendes, de Svetlana Alexievitch (Bielorrússia), Hans-Jürgen Heinrichs (Alemanha), Isabel Hilton (Grã-Bretanha), Natsuki Ikezawa (Japão), Tomás Eloy Martínez (Argentina), Michael Massing (EUA), Pankaj Mishra (Índia), Amjad Nasser (Jordânia), Abdourahman Waberi (Djibouti/França) e Zhao Xinshan (China).

Além deste júri, o prémio conta ainda com um comité consultivo que tem entre os seus membros o escritor e prémio Nobel da Literatura alemão Günter Grass, o repórter polaco Ryszard Kapuscinski, o antropólogo francês Jean Malaurie e o escritor indiano Nirmal Verma.

Organizado pela revista cultural “Lettre International”, em parceria com a Fundação Aventis e o Instituto Goethe, este galardão foi instituído em 2003 e tem como objectivo chamar a atenção internacional para a escrita de reportagem e proporcionar apoio financeiro e moral ao trabalho dos escritores do género.

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