Cenas de um casamento interactivo

A interacção entre os órgãos de comunicação social impressos e as edições «on-line», à luz das informações veiculadas no «site» www.naa.org, onde se faz a cobertura integral da conferência CONNECTIONS, que reúne anualmente em Washington especialistas na matéria. Texto de Mário Rui Cardoso.

Todos os anos, pelo Verão, realiza-se, em Washington, uma conferência intitulada CONNECTIONS, que procura reunir as mil e uma experiências, sensibilidades e opiniões de profissionais (e industriais) dos média, no que à interacção entre meios impressos e «on-line» diz respeito. Este ano (e, de algum modo, já no anterior), a conferência decorreu «ensombrada» pela vaga de falências e despedimentos que atingiu as empresas «dotcom», não escapando a esta hecatombe, também, as empresas de comunicação que apostaram em projectos «on-line». Ainda assim, ninguém defendeu, ao longo dos quatro dias que durou a CONNECTIONS, o abandono puro e simples da Internet. Ao contrário, prevaleceu a opinião de que é preciso continuar a apostar (embora com moderação) numa área que, passada a tempestade, acabará por consolidar-se. Na verdade, apesar do desinvestimento generalizado a que temos assistido no sector, há números que não param de crescer, aqueles que nos dão o retrato da penetração e utilização de Internet em todo o mundo. As percentagens podem mudar, conforme o instituto de sondagens que as divulga. Mas todas convergem na ideia de que o número de utilizadores particulares de Internet tem um crescimento forte e constante.

Saltar do combóio pode, então, ser arriscado, mesmo que o seu andamento seja agora mais lento. Por isso, os participantes na CONNECTIONS preferiram levar à conferência uma mensagem de optimismo e persistência (e ideias, porque só optimismo e persistência não bastam para singrar nos negócios).

O primeiro dia da conferência – organizada pela Newspaper Association of America (NAA) – foi dedicado aos projectos de informação para dispositivos móveis (telefones portáteis e computadores de bolso – ou PDA’s). Valha a verdade que a maior parte das experiências relatadas – e não são raras as publicações impressas, na América do Norte, que avançaram para projectos de “News2Go” – não são, propriamente, casos de sucesso. Os fracassos têm-se sucedido – o número de subscritores do serviço «wireless» de um jornal como o Star Tribune, por exemplo, conta-se na casa das dezenas. Mas ninguém ousou contrariar a ideia de que há um futuro para a informação veiculada por aparelhos portáteis de pequena dimensão. Embora às apalpadelas – e com pouco dinheiro –, os jornais vão avançando no campo da «informação móvel», porque sabem que têm que marcar posição num mercado onde, com toda a certeza, vão ser actores privilegiados. Como referia, na CONNECTIONS, Tim Connely, da Ericsson – Mobile Internet Solutions, «nenhuma outra indústria tem a capacidade das empresas de comunicação para reunir a informação 24 sobre 24 horas que interessa aos portadores de dispositivos móveis». Porém, por enquanto, contam-se pelos dedos os serviços de «informação móvel» que provaram ser bem sucedidos ou que, pelo menos, parecem ter pernas para andar. No «site» da NAA – onde é possível aceder à cobertura integral da CONNECTIONS e às próprias comunicações dos intervenientes – são expostos os casos do «USA Today» (com uma interessante experiência de publicidade dirigida a um público-alvo, no caso a larga fatia de executivos que preferem o «site wireless» do jornal para as suas pesquisas de informação) e do Los Angeles Times (que adoptou o sistema AdaptiveInfo – ver www.adaptiveinfo.com –, modo automático de organização de informação capaz de enviar para um PDA ou telemóvel apenas as informações que interessam ao seu utilizador – e isto sem que este tenha que preencher qualquer questionário prévio, para estabelecimento do seu perfil de gostos e interesses).

Em geral, no tocante às estratégias «on-line» da imprensa norte-americana, foram apresentadas na conferência diferentes ideias, experiências e convicções – abarcando os conteúdos editoriais, as técnicas publicitárias para a Net e as possibilidades que, eventualmente, poderão surgir para os serviços pagos –, de todas se fazendo eco na área que o «site» da NAA dedica à discussão sobre publicações electrónicas (www.digitaledge.org, para atalhar caminho. Ver edição de Agosto). Entre as comunicações, suscitam particular atenção as «60 Grandes Ideias dos Média Interactivos», levadas à CONNECTIONS por uma dupla de consultores do Advanced Interactive Media Group. Trata-se de uma recolha com seis dezenas de exemplos que os autores consideraram de especial interesse, sob o ponto de vista da associação estratégica entre as publicações impressas e os respectivos «sites». Parte dos projectos seleccionados têm um intuito gerador de receitas – através do aumento do tráfego dos «sites» e consequente atracção de publicidade; noutros, experimentam-se formas interessantes e inusitadas de levar a informação ao leitor através da Internet (o que, em última instância, pode significar, também, novas possibilidades geradoras de receitas para os proprietários dos jornais). O relatório que serviu de base à comunicação – 65 páginas – pode ser descarregado em www.aimgroup.com/reports.

Partilhe