Cartoons de Maomé continuam a causar danos na imprensa

Tentativas governamentais de incitar ao ódio contra um jornal em Marrocos, ataques a uma repórter que cobria um protesto na Turquia, a detenção de um jornalista que apelou ao diálogo na Síria, o despedimento de um editor na Indonésia e a suspensão de um diário na China são os mais recentes desenvolvimentos na polémica dos cartoons de Maomé.

O título marroquino “Le Journal Hebdomadaire” foi alvo de protestos frente às suas instalações a 14 de Fevereiro, na sequência de rumores difundidos no dia anterior pelos canais televisivos governamentais de que o jornal teria publicado os cartoons de Maomé.

Na edição de 11 de Fevereiro, o jornal apresentou uma fotografia da AFP em que um leitor do “France-Soir” segurava um exemplar do jornal que continha os 12 cartoons dinamarqueses, como forma de ilustrar uma cronologia sobre esta polémica.

Apesar do tamanho minúsculo das imagens – nenhuma tinha mais de 3mm – a direcção do jornal decidiu censurá-las para não ferir susceptibilidades, pintando-as com tinta permanente antes de os jornais serem enviados para as bancas.

Contudo, a 13 de Fevereiro, os canais públicos de televisão 2M e TVM noticiaram que havia uma “manifestação” frente ao parlamento, em Rabat, contra “a publicação dos cartoons do profeta pelo “Le Journal Hebdomadaire””. Todavia, as emissoras não identificaram nenhum dos manifestantes, nem tão pouco contactaram o jornal para obter outra versão dos eventos ou uma reacção.

Na 2M foram ainda feitas algumas considerações acerca de como o “Le Journal Hebdomadaire” era conhecido por ir contra a opinião pública noutras matérias importantes para o país, acusando-o igualmente de ter tentado cancelar a manifestação frente ao parlamento.

Em comunicado, o “Le Journal Hebdomadaire” respondeu que esta atitude dos canais públicos era uma incitação ao ódio com o objectivo de desinformar a opinião pública e expor o jornal à fúria popular num contexto particularmente explosivo.

Além disso, perante informações de que as manifestações teriam sido orquestradas pelo Estado e pelos seus média, o jornal lembrou igualmente que estas acções surgiram na véspera do veredicto do processo que opõe o Centro Europeu de Segurança e Inteligência Estratégica (ESISC) ao “Le Journal Hebdomadaire”, no qual o instituto sediado em Bruxelas pede uma indemnização de 5 milhões de dirhams (450 mil euros) por o jornal marroquino ter considerado um estudo feito pelo ESISC acerca da Frente Polisário como “complacente” e certamente fruto de um “arranjo” com as autoridades marroquinas.

Jornalista turca atacada por manifestantes

Mais a Leste, na Turquia, a repórter Aliye Cetinkaya, do diário “Sabah”, foi atacada a 10 de Fevereiro durante um protesto na cidade de Konya contra a publicação dos cartoons de Maomé na imprensa europeia.

Um grupo de 30 homens afastou-se da manifestação e atacou a jornalista, acusando-a de não ter a cabeça coberta, de usar calças e de mascar pastilha elástica, atirando-lhe sapatos e pedras e insultando-a. A jornalista acabou por ser salva pelos colegas de profissão, dado que a polícia que vigiava a manifestação optou por não intervir.

A jornalista fez uma queixa formal a 13 de Fevereiro e a procuradoria de Konya iniciou uma investigação, tendo os atacantes sido identificados nas fotografias policiais da manifestação, pelo que devem vir a ser processados pela sua actuação.

Em resposta, uma das organizações islamistas presentes na manifestação apresentou queixa contra Aliye Cetinkaya, acusando-a de perturbar o protesto, uma ofensa que poderá implicar uma multa ou uma pena de prisão entre 18 meses e três anos, ao abrigo de uma lei de 1983.

Apelo ao diálogo origina detenção de jornalista na Síria

Logo abaixo, na Síria, o jornalista Adel Mahfouz foi detido a 7 de Fevereiro por ter escrito no website Rezgar um artigo em que defendia que se deveria lidar com a polémica dos cartoons através de um diálogo pacífico, em vez de protestos violentos.

A procuradoria de Damasco acusou o jornalista de insultar o sentimento religioso público, o que lhe poderá valer três anos de prisão ao abrigo das leis sírias.

Jornalista despedido na Indonésia

Entretanto, na Indónesia, David da Silva, editor da revista cristã “Gloria”, de Surabaya, na ilha de Java, foi despedido por republicar os controversos cartoons de Maomé, tendo a administração do título mandado ainda retirar das bancas os oito mil exemplares da revista.

Porém, nem todos os exemplares foram recuperados, dado que alguns já tinham sido comprados, e a sua circulação desencadeou vários protestos frente às instalações da revista e um interrogatório policial a David da Silva.

Jornal chinês suspenso durante duas semanas

Um pouco mais a Norte, na China, as autoridades decidiram suspender o diário “Guangming” entre 16 de Fevereiro e 1 de Março, depois deste ter publicado uma fotografia que mostrava os desenhos do profeta.

A imagem em causa pertencia à Agência France-Presse e mostrava uma pessoa a ler um jornal que continha as reproduções dos cartoons. Além da suspensão ordenada pelo governo, a administração do jornal decidiu ainda retirar todos os exemplares das bancas.

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