Biografia refaz percurso de Carlos Cardoso

Com o título “É Proibido pôr Algemas nas Palavras”, é lançada a 5 de Maio, em Lisboa, a biografia do jornalista Carlos Cardoso, assassinado no ano 2000 em Moçambique.

A obra é da autoria de Paul Fauvet, responsável pelo serviço de inglês na Agência de Imprensa Moçambicana, e Marcelo Mosse, poeta, jornalista e correspondente da imprensa portuguesa em Moçambique.

Com chancela da editorial Caminho, a obra refaz o trajecto do proprietário e editor do jornal “Metical”, baleado mortalmente a 22 de Novembro de 2000, quando regressava a casa após o trabalho. O jornalista investigava na altura o desvio de 14 milhões de euros do Banco Comercial de Moçambique.

A morte de Carlos Cardoso levou a um julgamento bastante mediático, sobretudo por Nyimpine Chissano, filho do presidente Joaquim Chissano, ter sido acusado de mandante do crime. Seis pessoas foram já condenadas, enfrentando as mais pesadas penas que alguma vez foram aplicadas em África pela morte de um jornalista: entre 23 e 28 anos de prisão.

No entanto, ainda decorrem averiguações ao alegado envolvimento de Nyimpine Chissano, que continua em liberdade, constando do dossier mais três pessoas que lhe são próximas: Octavio Mutemba, ex- ministro e responsável pelo Banco Austral; Apolinário Pataguana, director da Expresso Tours, agência de viagens de que Nyimpine Chissano é proprietário; e Cândida Cossa, mulher de negócios e ex-oficial dos serviços alfandegários.

Carlos Cardoso nasceu em 1951, na Beira, no centro de Moçambique, estudou na África do Sul, de onde foi expulso em 1974 por se ter manifestado contra o sistema de apartheid, e iniciou a sua carreira de jornalista na imprensa oficial.

Em 1982, ficou preso durante seis dias por ter escrito um editorial sobre a guerra no país e, em 1992, fundou uma cooperativa de jornalistas, a Mediacoop, e o diário “Mediafax”, a que se seguiria, em 1997, a criação de um novo diário, o “Metical”.

Pouco antes de ser morto, e em artigos sobre o escândalo financeiro escritos para o “Metical” – jornal distribuído por fax e e-mail -, Carlos Cardoso citara, entre os homens de negócios envolvidos, os nomes de Momade e Ayob Satar, dois irmãos relacionados com o filho de Joaquim Chissano e mais tarde condenados por terem organizado o crime.

No serviço fúnebre de Carlos Cardoso na Câmara Municipal de Maputo, a 24 de Novembro, o escritor Mia Couto declarou que, com o assassínio de Carlos Cardoso, de 49 anos, não morrera somente um jornalista moçambicano, mas também “um pedaço do país”.

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