«As notícias e os seus efeitos»

Investigador e professor de Jornalismo na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, Jorge Pedro de Sousa reflecte em «As Notícias e os seus Efeitos» (ed. Minerva, Coimbra, 2000) sobre o porquê das notícias jornalísticas, o seu conteúdo, bem como as condicionantes da sua produção e recepção. Recensão crítica de Sara Pina.

Uma campanha publicitária para uma companhia de aviação realçava o elevado número de operações de segurança feitas aos aviões antes de cada voo: as pessoas pensaram que tantas operações de segurança eram sinal do perigo que é andar de avião. Resultado: a campanha teve o efeito contrário gerando medo de voar naquela companhia…

Este exemplo é mencionado por Jorge Pedro de Sousa no seu livro «As Notícias e os Seus Efeitos» porque, embora não jornalístico, alerta para o facto da comunicação poder ter consequências surpreendentes..

Investigador e professor de Jornalismo na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, Jorge Pedro de Sousa reflecte sobre o porquê das notícias jornalísticas, o seu conteúdo, bem como as condicionantes da sua produção e recepção. Já que a realidade noticiosa não é explicável pelo método simples do sempre-em-pé de «Alice através do espelho»: «When I use a word it means what I choose it to mean – not more nor less» — diz Humpty Dumpty.

Há acções de influência sobre as notícias: a pessoal, por capacidade dos autores e actores noticiosos; a social, fruto das dinâmicas e dos constrangimentos do sistema social; a ideológica, em que a origem das notícias se dá por forças de interesse que dão coesão aos grupos; a cultural, produto do sistema de cultura; a do meio físico e tecnológico, dependendo destes a produção dos órgãos de comunicação social; e a histórica, sendo as notícias um produto da história durante a qual vão interagindo as acções anteriores. Portanto, mais do que falar de jornalismo deveríamos falar de jornalismos, mesmo porque além destas forças que condicionam as notícias há vários conceitos ou «teorias da imprensa» que enunciam o que deve ser o jornalismo, explicadas na primeira parte do livro. Interessante é a análise de vários estudos sobre jornalistas e fontes de informação, «de alguma forma, e quase sempre, “gatekeepers” externos aos órgãos de comunicação social».

A segunda parte do livro é dedicada aos efeitos sociais da comunicação jornalística. Várias hipóteses são levantadas: desde as behavioristas e funcionalistas às de agenda-setting ou da espiral do silêncio, passando por posições mais críticas, como a da Escola de Frankfurt. Concluindo-se que não há um critério geral sobre os efeitos dos meios jornalísticos que «ao tornarem a sociedade tendencialmente mais conhecida e reconhecível por ela própria, contribuíram, desde que apareceram, para a ocorrência de modificações sociais profundas».

«Lutando constantemente contra “deadlines” cada vez mais apertadas; vendo fugir, devido à Internet, o seu papel de “gatekeeper” privilegiado da informação publicamente difundida; narrando histórias complexas em situações de incerteza, sem todos os dados disponíveis nem todas as fontes acessíveis; pressionado pela competição; constrangido pela gestão dos recursos humanos, financeiros e materiais da sua organização noticiosa; obrigado a partir da simples reportação para a análise dos dados que disponibiliza e dos acontecimentos que noticia, sem muito tempo para ponderar devidamente sobre a pertinência e o significado dos acontecimentos e ideias que selecciona e, consequentemente, sobre a pertinência e o significado da informação que vai disponibilizar ao público, o jornalista de hoje necessita não somente de possuir um notável «know-how», quer sobre jornalismo e técnicas de expressão jornalística, quer sobre a área em que se especializou, mas também ter uma agenda de contactos rica e diversificada e de possuir uma capacidade de bem se relacionar com as fontes. Convenhamos que, no global, são exigências nada fáceis de cumprir» concluiu o autor. Um pouco mais fáceis de entender e de cumprir depois da leitura deste livro, concluímos nós.

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