Antigo colaborador da “Grande Reportagem” morto na Somália

O repórter, fotógrafo e operador de câmara sueco Martin Adler, antigo colaborador da revista “Grande Reportagem”, foi morto a tiro por um desconhecido no dia 23 de Junho, enquanto fazia a cobertura de uma manifestação na Somália.

Martin Adler, freelancer de 47 anos, estava há cerca de uma semana em Mogadíscio, capital da Somália, em trabalho para o tablóide sueco “Aftonbladet” – um dos órgãos para os quais colaborava -, e foi assassinado com um tiro nas costas que lhe atingiu o coração e provocou morte imediata.

O crime ocorreu durante uma manifestação de cerca de quatro mil pessoas que exprimiam o seu apoio ao acordo de paz entre os Tribunais Islâmicos e o governo provisório da Somália, assinado no dia 22 em Cartum, capital do Sudão, sob os auspícios da ONU. O repórter tentava captar imagens dos manifestantes queimando bandeiras dos EUA e da Somália quando foi assassinado.

Recorda-se que, a 5 de Junho, os Tribunais Islâmicos conquistaram a capital somali aos designados “senhores da guerra” apoiados pelos Estados Unidos.

De acordo com outros jornalistas presentes no local, Martin Adler foi morto intencionalmente, talvez para demonstrar que os Tribunais Islâmicos ainda não conseguiram instaurar a segurança no país ou como expressão de um sentimento anti-ocidental que se vive na Somália e que tem motivado agressões a jornalistas estrangeiros.

Face ao sucedido, Sharif Sheikh Ahmed, responsável dos Tribunais Islâmicos considerou o acto “bárbaro” e afirmou que o responsável será punido.

Também Gabriel Baglo, director da delegação da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) em África apelou ao presidente da Comissão da União Africana, Alpha Oumar Konaré, e ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para “ampliarem os seus esforços no sentido de pôr fim à falta de lei na Somália, onde os profissionais dos média continuam a ser mortos impunemente”.

Para a directora executiva do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ), Ann Cooper, esta morte mostrou que a Somália continua a ser “um dos mais perigosos cenários mundiais para o exercício do jornalismo”.

Martin Adler era casado e pai de duas filhas. Trabalhou em mais de doze zonas de guerra, caso do Iraque, Afeganistão, Bósnia, Ruanda, Congo e Serra Leoa.

Multipremiado pelo seu trabalho, foi distinguido com o Prémio para os Média da Amnistia Internacional em 2001, ano em que recebeu também o Silver Prize para jornalismo de investigação no Festival de Cinema de Nova Iorque; em 2004 coube-lhe o Rory Peck Award for Hard News, devido a uma reportagem em que expunha abusos por parte das tropas norte-americanas no Iraque.

A morte de Martin Adler, ocorrida cerca de ano e meio após a de Kate Peyton, da BBC, assassinada no início de 2005, faz subir para 21 o número de jornalistas assassinados na Somália desde a queda do antigo ditador Siad Barre, em 1991.

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