Ameaças de despedimentos mobilizam jornalistas britânicos

Os jornalistas de vários títulos do Reino Unido estão a mobilizar-se para fazer face a ameaças de despedimento em diversas publicações regionais, pertencentes aos grupos Northcliffe, Archant, Newsquest e Guardian Media.

No Guardian Media Group, o título afectado é o “Manchester Evening News”, cujos profissionais afectos ao Sindicato Nacional de Jornalistas (NUJ) votaram unanimemente uma moção de não confiança na administração, no editor e nos directores editoriais, tendo ainda agendado uma votação sobre uma eventual greve, com vista a contestar os 27 despedimentos a nível editorial anunciados pelo grupo.

Os cortes estão previstos para 3 de Março e o sector mais afectado é o da fotografia, uma vez que os seis fotojornalistas existentes vão ser todos despedidos, passando as imagens a ser fornecidas por agências e colaboradores esporádicos.

As alterações anunciadas pela administração também vão levar ao repensar da revista “V”, à fusão de algumas editorias e talvez mesmo de algumas delegações e ainda a uma eventual maior “flexibilidade” laboral dos jornalistas durante as manhãs, noites e fins-de-semana.

O secretário-geral do NUJ, Jeremy Dear, não vê qualquer motivo para estes despedimentos, uma vez que a empresa teve lucros recorde de 32 milhões de libras no ano passado e “deveria estar a investir mais em bons jornalistas e em bom jornalismo”.

A decisão dos administradores foi tomada com base em dados fornecidos pela consultora Collinson Grant, os quais, segundo a administração, apontam para quebras na publicidade e previsões de lucro pouco positivas. Estes indicadores não puderam ser confirmados pelos jornalistas uma vez que lhes foi recusado o acesso à documentação.

Grupo Newsquest quer eliminar 60 a 70 postos de trabalho na Escócia

Quebras nas receitas publicitárias são também a razão apresentada pela direcção do grupo Newsquest para cortar entre 60 e 70 postos de trabalho nos títulos escoceses “The Glasgow Herald”, “Evening Times” e “Sunday Herald”.

Os cortes – anunciados a 1 de Fevereiro – vão afectar quase todos os departamentos, com excepção da divisão de Internet e da de revistas, tendo a administração instado os trabalhadores a chegarem a acordos de rescisão com a empresa, para não se ver forçada a despedimentos compulsivos.

Cortes de Leste a Oeste

Em Norwich, no Leste de Inglaterra, o grupo Archant anunciou o fim de 17 postos de trabalho de substituição, enquanto o grupo Northcliffe apelou a acordos de rescisão com os trabalhadores em diversos títulos regionais da região Oeste, no âmbito de um programa chamado “Aim Higher”.

Dois dos títulos afectados por este último caso são o “Gloucester Citizen” e o “Gloucester Echo”, cujas instalações vão ser fundidas e passadas para a cidade vizinha de Cheltenham, eliminando 20 postos de trabalho e prejudicando a qualidade das notícias, dado que em Gloucester – uma cidade com 110 mil habitantes – vão permanecer apenas três repórteres, que terão de efectuar todo o tipo de serviços.

Tim Lezard, presidente do NUJ e ex-jornalista do “Gloucester Citizen”, lamenta a decisão por considerar que este tipo de cortes resultará num pior serviço às populações locais, sendo que “uma pior cobertura levará inevitavelmente a uma quebra nas vendas”.

Um pouco mais a Sul, na região de Bath, os jornalistas do grupo Northcliffe temem que as saídas voluntárias ocorridas – em número superior ao necessário – levem a um aumento incomportável da carga laboral sobre quem ficou, dado que a administração pode optar por não substituir quem saiu.

Uma das opções que a empresa poderá considerar é a colocação de jornalistas das publicações locais de Clevedon e Wells em Bath, o que segundo o NUJ terá consequências negativas, já que os repórteres terão de passar a cobrir áreas que desconhecem, o que levará inevitavelmente a uma perda da qualidade jornalística, pelo menos numa fase inicial.

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