Administração da RTP omite dados sobre a TV Guia

A Comissão Intersindical da TV Guia acusa a Administração da RTP de omitir dados sobre a real situação da empresa. Em comunicado, os representantes dos trabalhadores explicam como durante muitos anos a TV Guia Editora foi “das poucas empresas do grupo a dar lucro e a contribuir positivamente para as contas da RTP”: 6,5 milhões de contos (1.303 milhões de euros), dos quais apenas 700 mil contos (140.300 euros) foram reinvestidos na própria empresa.

A Comissão Intersindical da TV Guia lembra, no comunicado divulgado em 30 de Setembro de 2002, que sucessivas administrações da RTP “estrangularam” a empresa, impediram o seu dimensionamento “de acordo com a evolução do mercado” e tomaram, mesmo, medidas que contribuiram para a situação deficitária que vive desde 1998.

É o seguinte o texto integral do comunicado da Comissão Intersindical da TVG:

O QUE A RTP NÃO TEM DITO SOBRE A TV GUIA!!!

A nova Administração da RTP, que tomou posse a 22 de Julho último, anunciou a 25 de Julho, três dias depois, a decisão de alienar a TVG (ex-TV Guia Editora), alegadamente por esta não ser estratégica para a “missão” a que se propôs: a “prestação de um serviço público de televisão de qualidade”. E argumentou, em declarações posteriores, que a TVG tem representado para a RTP um esforço financeiro considerável.

O certo é que a RTP, entre 2000 e 2002, investiu menos de 1 milhão de contos na TVG. Ora, é bom não esquecer que a TV Guia Editora foi, ao longo de muitos anos, das poucas empresas do grupo a dar lucro e a contribuir positivamente para as contas da RTP.

Além disso, a actual situação vivida pela TVG deriva, em grande parte, da responsabilidade da própria RTP. E são várias as razões que nos assistem e as considerações que nos parecem oportunas para um esclarecimento mais global:

1. A TV Guia é uma publicação com 24 anos, que liderou o segmento de revistas de TV até há bem pouco tempo;

2. Em 1991, a TV Guia Editora foi, de acordo com uma análise do jornal “Público”, “a única empresa em Portugal que obteve resultados superiores aos capitais próprios”;

3. Em 1992, a TV Guia Editora figurou entre as 100 melhores PME’s europeias, de acordo com um estudo do World Economic Forum e foi a empresa do sector, a nível nacional, com melhor índice de rentabilidade, segundo um estudo da revista “Exame”

4. Até 1997, a TV Guia Editora foi uma empresa geradora de milhões de contos de lucros, tendo entregue à RTP, durante este tempo, cerca de 6,5 milhões de contos; destes milhões, apenas cerca de 700 mil contos foram reinvestidos na própria TV Guia Editora;

5. Não podem nem devem ser ignorados os maus acordos que algumas administrações, nomeadas pela RTP, fizeram com gráficas e distribuidoras; ou quando desviaram da TV Guia Editora projectos lucrativos como a publicação dos livros dos “Patinhos”;

6. De 2000 a 2002, a RTP investiu na TVG apenas menos de 1 milhão de contos (onde se incluem 600 mil contos de aumento de capital social, o qual era, escandalosamente, de apenas 2.500 contos), valor que fica muito aquém do que a TV Guia Editora deu à RTP, como fica referido e provado anteriormente;

7. A TV Guia Editora foi sempre uma empresa “estrangulada” pela RTP, que nunca lhe permitiu crescer devidamente ou dimensionar-se de acordo com a evolução do mercado;

8. Assim, é seguro dizer-se que houve momentos em que se impunha a expansão da TV Guia Editora, o que lhe teria permitido dotar-se dos instrumentos económicos necessários para enfrentar uma concorrência agressiva e com maior capacidade de decisão. Dois exemplos: a TVG só não é hoje accionista da distribuidora VASP, com uma quota significativa, porque a RTP “travou” o contrato; além disso, a TV Guia Editora tinha tudo acertado para entrar no capital social da Hachette que editava a revista “Elle”, já com instalações arrendadas e pessoal destacado, mas esta parceria foi, mais uma vez, “abortada” pela RTP, sem explicações;

9. O processo de reestruturação – saneamento económico e início dos processos negociais com vista a rescisões amigáveis de contratos de trabalho – da TV Guia Editora, lançado em 1999, acabou por ficar a meio por manifesta dificuldades financeiras da RTP;

10. A campanha de comunicação/publicidade acordada, em 2001, com a RTP para o lançamento do novo modelo gráfico da revista TV Guia foi substancialmente reduzida se tivermos em conta o previamente acordado;

11. Relativamente a uma série de iniciativas editoriais propostas para reforço das “marcas” TV Guia e Guia, foram sucessivos os impasses e as faltas de resposta por parte dos conselhos de gerência da TVG, sendo o “silêncio” da RTP a única razão adiantada;

12. Houve inclusivamente negociações de carácter comercial que envolviam sinergias da RTP com a TVG, a que o “elo mais forte” nunca deu provimento ou seguimento, apesar de várias reuniões e documentos trocados sobre essa matéria;

13. Além disso, foi também fonte de prejuízo o lançamento da revista Telejogos–Sorte Grande, concretizado por insistência da RTP e do Conselho de Gerência da TVG.

Em resumo, a RTP é a principal responsável pela actual situação que a TVG vive, pois muito fez para impedir o natural crescimento da empresa, nomeadamente, através da sistemática alterações dos objectivos definidos, ora manifestando interesse em apostar na TVG, como elo estratégico numa política de sinergias de grupo, ora desinvestindo ou mesmo colocando-a à venda no mercado. Atitudes contraditórias adoptadas num curto período de tempo que só agudizaram a situação da empresa, que já vinha revelando sinais preocupantes e perante os quais as várias administrações da RTP e os conselhos de gerência da própria empresa pouco ou nada fizeram.

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