Campanha contra jornalista em Marrocos

Pelo menos uma dúzia de órgãos de comunicação social marroquinos de tendência pró-governamental lançaram uma campanha contra o jornalista Ali Lmrabet, acusando-o de traição, o que faz temer pela sua segurança, noticiou a Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

De acordo com a organização, a campanha teve início após uma reportagem acerca dos prisioneiros de guerra da Frente Polisario, formação política que luta pela independência do Saara Ocidental.

Ali Lmrabet escreveu acerca dos prisioneiros para o jornal “El Mundo”, em Novembro de 2004, e em Janeiro entrevistou Mohamed Abdelaziz, líder da Frente Polisario, para o semanário árabe “Al Moustakil”.

As movimentações contra o jornalista têm lugar duas semanas depois de as autoridades marroquinas lhe terem bloqueado o pedido de autorização para lançar um novo semanário.

A RSF sublinha que este género de campanha é um caso inédito por parte dos média de língua árabe ou francesa no território e assinala que o público marroquino está a ser bombardeado com as posições de várias organizações, que a imprensa veicula, sem ter acesso ao ponto de vista do jornalista visado.

A RSF acrescenta que o jornalista se limitou a fazer o seu trabalho, ouvindo o entrevistado e reproduzindo as suas palavras, e destaca que qualquer repórter deve ser livre de fazer o seu trabalho sem correr o risco de ser depois acusado de traição.

Ali Lmrabet, que venceu o Prémio RSF – Fundação de França em 2003, afirmou que ninguém verá nada escrito por ele que não exprima aquilo que sempre defendeu, nomeadamente que o Saara Ocidental não está ligado a Marrocos pela força ou pelo dinheiro mas pelos direitos humanos, solidariedade, liberdade e justiça.

Ali Lmrabet acrescentou ser a favor de um referendo de auto-determinação, por acreditar que cada povo deve decidir o seu destino, e disse ainda que a operação contra ele é montada pelo ministro do Interior para impedir o lançamento do seu semanário e o impedir de se expressar sobre a vida pública e o seu país.

A 3 de Fevereiro, várias organizações de direitos humanos das províncias do Sul do país manifestaram-se frente ao parlamento, ao Ministério da Comunicação e à Associação de Direitos Humanos de Marrocos em Rabat, protestando contra o facto de Ali Lmrabet dizer que a população sarauí de Tindouf – um campo de refugiados no que é considerado o pior deserto da Argélia – goza de liberdade de movimentos.

A RSF destaca ainda que, em apenas uma semana, pelo menos dez diários usaram títulos em que acusavam Ali Lmrabet de traição, acompanhados de uma foto do jornalista, e que as imagens do protesto contra o repórter foram veiculadas pelas estações televisivas 2M e RTM, tendo um total de 11 minutos de programas em horário nobre sido ocupados com o assunto a 3 de Fevereiro.

Entretanto, o presidente da associação do Saara Marroquino, Réda Taoujni, que não tomou parte nos protestos, disse à RSF estar “desgostoso” com o incidente, acrescentando que um ajuste de contas com Ali Lmrabet não deve envolver o Saara Ocidental, até porque “Ali Lmrabet é um defensor fervoroso de que o Saara é marroquino”.

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